Rubem Penz
“E se o juiz apita errado é que a coisa fica feia”
Pixinguinha e Benedito Lacerda
O jogo estava aguerrido, até mais do que costumava ser. Não havia bola perdida. Em toda dividida, entravam a morrer ou matar. A vitória (os fins) justificava os meios (dar no meio, mesmo, sem dó). Torcedores absurdamente divididos. Nessas, árbitro e bandeirinhas sofriam pressão constante. Afinal, a histórica leniência e a cabal impunidade transformaram o torneio num infindável vale-tudo. Sem falar nas suspeitas de compra de resultados.
Tantos foram os carrinhos, as soladas e os passa-pés que, num certo momento, o destino resolveu dar um basta. O problema é que o “basta”, primeiro, atingiria a um time. Pênalti! Que dilema.
– Como assim? Jogadas como essa já vinham sendo praticadas e, justo agora, não só é falta, como é pênalti? Perseguição! Arbitragem parcial! Roubo!
Tarde demais. E a reclamação disseminada sequer foi capaz de evitar o cartão vermelho. Ao time penalizado vinha na garganta o amargo gosto da injustiça – ou as regras valem para todos, ou seguem a não valer para ninguém (esquecia-se que sua torcida gritava “pênalti” até em cobranças de tiro de meta do adversário). Do outro lado, vivas ao juiz. Também, receio… Muito a temer. E se? Este é o ponto em que se encontra nossa partida: no “e se”.
E se também punir o outro, o outro, o outro e o NOSSO time? Bem feito!
E se parecerem todos desleais perante a opinião pública? Bem feito!
E se as torcidas se derem conta de que não é mais futebol, é outra coisa que está em jogo? Bem feito!
E se alguém quiser calar o apito do árbitro? Malfeito! Uma vez começado, continue.
Bom, assim sendo, saberemos qual esporte a arquibancada prefere: com ou sem regras. Também descobriremos se as normas serão para todos, ou segue uma cancha de ninguém. Daqui para frente, a única notícia boa não deixa de ser uma espécie de distorção: parcelas crescentes agora torcem para o juiz. As quais, desde sempre, tiveram a esperança de que o regulamento valesse para todo mundo. Vai lá: apita certo, seu juiz!
Crônica publicada no Metro Jornal em 24.05.2016