Meu bem, meu mal

Rufar dos Tambores nº 525

Meu bem, meu mal

Você é minha droga, paixão e carnaval

Meu bem, meu zen, meu mal

Caetano Veloso

Pouco se ouve falar de acordos pré-nupciais. Eles são contratos particulares para adicionar cláusulas que ultrapassam as deliberações normais de uniões civis – comunhão parcial, comunhão universal ou separação de bens. Porém, nem sempre tais documentos tratam apenas do destino do patrimônio. Há quem busque regrar comportamentos, incluindo sansões (até mesmo severas) para o descumprimento do acordo. Talvez tais papéis sejam raros porque nem todos têm muito a resguardar. Ainda mais contratando advogados a peso de ouro em busca de garantias pouco irmanadas com o suposto amor.

Todavia, há uma infinidade de acordos não escritos, apenas vivenciados, que pautarão o futuro matrimônio. Desde os primeiros dias do namoro – e mais aceleradamente quando as escovas de dente habitam o mesmo armarinho de banheiro – há uma negociação de direitos e deveres, espaço e tempo. Minutas e mais minutas são escritas na memória, ou esquecidas em rascunhos perdidos nos bolsos, junto com outras lembranças do passado. Há negociações complicadas, como no caso de Heleninha e Paulo Roberto, que já viviam em namoro avançado. E, como sempre, foi ela quem puxou a conversa enquanto via o namorado terminar a função da cozinha.

– Meu bem, exatamente por que razão você deixa de lavar a louça, arrumar as camas e tirar a mesa quando sua filha vem passar o final de semana conosco?

– Benzinho, tenho tão pouco tempo para ela… Não é certo você cobrar isso justo de mim, alguém que participa tanto das lidas domésticas.

– Mas, bem, será que você não estaria omitindo da menina esse novo arranjo? Não esqueça que eu sei que na outra casa você não fazia nada.

– Bem querer do meu coração: você está insinuando que eu tenho vergonha deste avental que comprei com tanto carinho para provar que sou um novo homem?

– … e que some para o fundo da gaveta quando a Gabi entra pela porta da sala? Imagina, meu bem!

– Pois bem, e se fosse isso? Por exemplo, acho que o Otávio, seu filho, não me respeita exatamente por esse motivo. E não quero perder o conceito que ainda tenho com a minha Gabriela!

– Ah, bem, agora as coisas começam a ficar mais claras. Você não é um novo homem: está apenas me enrolando e, daqui a pouco, se atira nas cordas!

– Não diz isso, meu benzinho. Essa analogia pega mal pra você, falando bobagens, enquanto está esparramada aí na rede, só me olhando trabalhar.

– E que tal se a Gabi, a sua princesinha, lavasse a louça?

– E que tal se o Otávio, o seu reizinho, lavasse a louça?

– Acho que essa conversa não vai acabar bem…

– Bem que minha mãe me avisou!

 

 

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