Esconde-esconde
Rubem Penz
Nessa vida, uma das maneiras de aprender sem parar é ter filhos. Uma grande lição acabamos de receber da caçula, que está em plena efervescência por causa da mudança de escola — e entrada na primeira série. Na expectativa sobre as novas amizades, nos confessou um método que usava na antiga escolinha, sempre que queria livrar-se da companhia indesejada de um determinado colega. Para não ferir os sentimentos do menino, convidava-o para brincar de esconde-esconde. Então, escondia-se e não aparecia mais. Genial!
Quem dera nós, os adultos, pudéssemos fazer tal confissão com tanta serenidade (até mesmo para si). Afinal, foi só pensar um pouquinho para concluir que já propus tal jogo muitas vezes durante a vida, em relações de trabalho, amorosas ou mesmo fraternais. Vítima do brinquedo também fui, demorando um bocado de tempo até me dar conta do ocorrido e interromper a busca inútil. Seja me escondendo, seja procurando quem sumiu, quase nunca pensei que o motivo oculto pudesse ser o desejo sincero de não aborrecer (e aborrecer-se) com a verdade incofessável: a companhia em questão ser indesejada.
Até hoje, o uso de subterfúgios para evitar a presença de alguém me soava como uma espécie de covardia. O certo, o justo, o corajoso, seria falar a verdade, fosse ela ferir ou não o interlocutor: “Fulano, tenho mais o que fazer”, “Beltrana, este problema é seu”, “Sicrano, você está me perturbando”. Porém, a partir de agora, seguindo o ponto de vista da filha, me despreocupei um pouco. Na realidade, o uso de jogos de esconde-esconde também pode acontecer por outro motivo, que é a saudável preservação do convívio social. Por mais virtuoso que alguém 100% sincero possa parecer, duvido que ele conte nos dedos muitos amigos. Muita franqueza soa como algo por demais intolerante. Esconder o que pensamos e esconder-se de quem nos perturba, além de necessário, pode ser generoso.
Por falar em tolerância, imaginei a lista enorme de pessoas que eu não tenho a chance de convidar para um bom esconde-esconde e, depois, sumir. Ou, quem sabe, pedir a elas que se escondam para jamais procurá-las. Lamentavelmente, são nomes que vivem em jornais, em programas de rádio e TV. Portanto, por mais que eu queira não vê-los, teimam aparecer na minha frente, me forçando a aturá-los. Eles desaparecerão apenas quando lhes for conveniente, sem dar a ninguém a chance de abrir contagem. Pior: deixando outro bem desagradável no lugar. Coincidentemente, são os seres humanos mais hábeis na arte de dissimular, de ocultar as verdadeiras intenções e julgamentos. Em outras palavras, na arte de fazer política.
Minha menina, no alto dos seus seis anos, intui com muita precisão o jogo de esconder e revelar que a convivência obriga a todos. Me absolve, também, quando apresenta um motivo nobre para, ela mesma — tão cedo! –, praticá-lo conscientemente. Com ou sem metáforas, me restou uma preocupação: para quem eu estaria neste exato momento de olhos vendados, contando até cinqüenta, enquanto me evita?
Rubem, achei fantástico teu blog.
Agora eu quero o livro!
E eu sei que ele vai sair!
Mil felicidades e muito sucesso, pois tu é um amigo que eu considero D+ e prá ti só posso desejar o melhor!
bjs.
Lu Schmia
Rubem,
Essa da Clara é de uma simplicidade lógica genial. Me lembra a tirada da Sofia, perguntada sobre o que seria quando crescesse: “Ué, mais alta.”
Póiiiim!
abs,
marlon
Marlon,
Complicados somos nós!!!
Abração,
Rubem