SECANDO DEBORAH
Roger, o meio-campista contratado pelo Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, desembarcou na capital gaúcha trazendo na bagagem uma dúvida e uma certeza. A dúvida é se desfilará em campo o futebol que o consagrou nos bons tempos ao invés da inconstância que tem sido sua recente marca. A certeza é um gás danado para as colunas de fofoca em jornais e revistas dos pagos. Afinal, a tiracolo chegou sua namorada Deborah Secco.
Não conheço a menina, mas já estou compadecido com seu destino. Nascida em 1979 no Rio de Janeiro, ela cresceu acostumada com a sem-cerimônia carioca no convívio com os famosos: estrelas globais são numerosas por lá, tanto quanto a torcida do Flamengo. Uma atriz a mais, uma a menos no balcão da farmácia tanto faz. Em Porto Alegre, não… Cidade traumatizada pela desconfortável posição de rápido trampolim no Festival de Cinema de Gramado, sorve até os ossos um artista com peça encenada no Theatro São Pedro. Para “mais ou menos” morar aqui, o pedágio será caro.
Habitam na cidade muitas pessoas com hábitos, educação e rotinas cosmopolitas. Mas é bem verdade que, em sua maioria, os porto-alegrenses são um tanto provincianos. Assim, Deborah presenciará chiliques homéricos ao circular pelas ruas cantadas por Mário Quintana. Se tiver sorte, será apenas alvo de mil olhos a julgar e comentar sua aparência, achando-a mais baixa ou mais alta do que na TV, tão gostosa quanto o tal ensaio fotográfico já revelou, menos provocante do que deveria, simpática como aquela personagem ou insuportável como a outra.
Mas isso ainda não é a pior notícia. Desde já, ela deve estar preparada para amar incondicionalmente o Brique da Redenção. Tomar ao menos um mate por semana para satisfazer determinado(a) apresentador(a) local, festejar o churrasco, dizer que “Porto Alegre é demais” e cantar uma estrofe do hino rio-grandense. Preferir Inter ou Grêmio – ai dela se confundir o time do seu amor –, garantir que se adaptou ao clima, esperar com avidez a Feira do Livro e a Expointer. Confirmar a fama do pôr-do-sol do Guaíba, dizer que parece estar em Buenos Aires e achar o MARGS melhor que o MASP. Também admirar-se com o tamanho da chaminé da Usina do Gasômetro sempre que passar diante dela, comparar Atlântida com Copacabana, considerar a Elis Regina insubstituível, posicionar-se contra ou a favor no embate Tchê Music versus CTG etc. A vida de neo-gaúcho é um espeto sem filé mignon…
A nosso favor, deve acontecer algo parecido em Florianópolis quando o assunto for ponte Hercílio Luz, em Curitiba andando na Boca Maldita, comendo uma moqueca capixaba em Vitória, sacudindo ao som dos tambores do Olodum nas barbas do baianíssimo Elevador Lacerda ou visitando o Forte dos Reis Magos em Natal. Mas especulo. Certeza mesmo, tenho da paciência que Deborah precisará ter com os chatos que consideram o Rio Grande do Sul o umbigo do mundo, Porto Alegre seu piercing.
Para encerrar, desejo que o Roger jogue apenas o suficiente para que o Grêmio permaneça com ele por longos anos, e menos do que necessitaria para ganhar alguma vez do Colorado. E que o romance dos dois fique velho o bastante para deixar de ser notícia até para os fofoqueiros locais. Com tal sorte, a atriz poderá circular por aqui sem que todos a fiquem secando. Esse é o melhor jeito de curtir o Brique da Redenção, tomando um mate e exaltando nosso pôr-do-sol.