Número 416
Rubem Penz
Aseem Mishra tem 17 anos e já ganhou dois prêmios em feiras de ciências. O mais recente é muito conceituado: The Big Bang Science Fair, concurso nacional para estudantes ingleses. O que chamou a atenção de quem mandou a notícia para mim (grato, Paulo Henrique!) foi a natureza do invento do rapaz: uma calça jeans bateria. Mas não battery (pilha), e sim drums (instrumento musical).
Em resumo, a adaptação de sensores no tecido da calça transformou o jeans em uma bateria eletrônica que se pode vestir. No filme que acompanha a reportagem, Aseem faz um solo totalmente nas coxas. Ali, encontra peles, pratos de condução e ataque, hi-hat e tudo o que compõe o conjunto de sons do instrumento musical. Não bastasse o prêmio de £ 1000, abre-se a possibilidade de costurar sua criação com empresas do ramo – ainda mais que deverá vestir o invento em uma feira norte-americana.
Acha que fui lembrado porque sou baterista? Nada disso. Foi porque sou meio chato, mesmo: tenho a mania quase incontrolável de batucar. Batuco na mesa, no volante do automóvel, no sofá. E, na falta de superfícies externas, batuco no corpo. Quando sentado, os pés não param e as mãos percutem nas pernas – só faltam os sensores. O fato é que sempre – sempre! – tem música tocando onde eu estiver, senão em aparelhos de som, na memória. E costumo acompanhá-la. Não respeito sequer as refeições. Mas, educado, atendo sem demora os pedidos para silenciar.
Para ter bolado o invento, parece óbvio que Aseem padece do mesmo tique, algo que a desenvoltura no filme atesta. Bela resposta aos que insistem para que ele fique quieto: fazer da mania um mérito! Mas parece que não foi isso que moveu o estudante. Segundo a entrevista, o menino se diz cansado de carregar a bateria para suas gigs. Cansado aos 17? Realmente, a preguiça é uma das principais molas do progresso. Três décadas nos separam e eu não abro mão do set acústico, pesado e espaçoso. Sou um dinossauro, mas mantenho a forma física!
Agora, já pensou se a moda pega?
Saias plissadas podem virar piano. Gravatas, saxofones. Haverá quem pense em aproveitar as casas dos botões para entoar uma melodia em flauta doce. Equipando um macacão da gola à bainha da perna, o músico poderia ser um verdadeiro homem banda. O esperto daria para a namorada uma calça com bongô estratégico, e teria a desculpa perfeita para percutir a bunda. O pai mais ciumento faria a menina usar um sutiã com apito, ficando atento, só na escuta. As magrinhas colocariam uma blusa justa para abrigar a harpa das costelas. No cinto, flauta transversa. Castanholas nas luvas e maracas nos punhos.
Entre adolescentes, não faltaria mãe espantada: meu Deus, esse menino está duas oitavas acima do blusão que ganhou no ano passado! E a filha brigaria com o pai: tom menor! Ele: nada disso, tom maior! A avó reclamaria que, no seu tempo, as mãos serviam apenas para bater palmas e os dedos para assobiar, e olhe lá! Mas todos desconfiariam de tanta inocência: certamente rolava concertos à capela…
Enquanto estamos apenas no terreno das hipóteses, não custa imaginar possibilidades:
– Berimbau! Viu só aquela zabumba?
– Se vi… Mas é muita orquestra para a minha batutinha.
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Rubem, que sonzeira fantástica esta crônica! 🙂
Adorei! Bj
Muito grato, Tati! Pura bondade!
Beijos, Rubem