Para você, quanto valeria ser o capitão da Seleção Brasileira que ergue a taça de Tetra Campeã do Mundo depois de mais de duas décadas de campanhas frustradas?
Para você, quanto valeria ter a oportunidade de reescrever uma história pessoal depois de ver seu nome – e apenas o seu nome – associado a um fracasso coletivo?
Para você, quanto valeria ter sobre seus ombros a liderança dentro de campo e, fora dele, a função de equilibrar o inquieto, indisciplinado e valiosíssimo goleador do time?
Descobri com certo espanto que, para a produção de um documentário de 75 minutos na maior rede nacional de televisão, o valor é de 0,005% do espaço total do vídeo. Neste intervalo insignificante, um inescapável pênalti convertido contra a Itália e a lembrança de seu companheiro de meio de campo sobre as consequências desastrosas de um erro naquele momento – algo que, convenhamos, não aconteceu. Nem o erguer da taça, imagem mais clássica impossível, foi mostrada.
Se fosse com você, com revolta plausível, pensaria: por quê?
À distância posso especular sobre o convite da emissora e a recusa do atleta em participar da produção para, com isso, justificar tal boicote no rol dos baixos sentimentos. Mas, especulação por especulação, é possível que nem isso tenha ocorrido. Na segunda hipótese, estaríamos no terreno dos propósitos: um apagamento planejado. Como a história tem trinta anos, pelo documentário, uma parcela considerável da população brasileira pensará que nem capitão aquela esquadra tinha.
É perturbador sabermos que basta um editor para que o presente e o futuro conheçam uma narrativa assaz parcial. Se foi possível apagar o capitão do time, o jogador com a maior média de desarmes do certame (para um mísero cartão amarelo), o destaque da copa em bolas recebidas e de passes certos, além de ser titular no “time dos melhores jogadores do campeonato”, tudo pode ser reescrito. Dentro ou fora do futebol.
Por mais litigiosa que seja a relação de Dunga com a imprensa – fonte segura assegura ser –, precisamos lembrar de Zagallo. Ele próprio protagonista de constantes rusgas, nos ensinou a engolir desafetos, nem que por justiça aos fatos. A história não é feita só por nossos amigos.
IMPORTANTE:
Hoje (16/07/2024) às 19h temos o Sarau Santa Sede da Safra Porto Alegre no Bar do Nito (Lucas, 105). Passa lá! Os autores Soraya, Tânia, Carmen, Janice, Bete, Eladir, Jéssica, Elaine e Luciano apresentam o livro que será lançado em breve.
Crônica show de bola, com o perdão do trocadilho!
Hahahaha! O trocadilho cabe, Ataíde! Obrigado!
Caríssimo mestre Rubem. Também assisti o documentário ontem à noite e realmente são escassas as imagens do capitão Dunga. Nem a imagem erguendo a taça foi mostrada. Muito pertinente e sagaz tua crônica. Ele e sua esposa apareceram nos noticiários em referência a um acidente de carro que soferam – felizmente sem ferimentos graves – nesse fim de semana no Paraná. Talvez o ranço com a chamada “era Dunga” seja o motivo desse “esquecimento” na edição… Grande abraço.
Sim, Roberto. Há muita mágoa e reações de parte a parte entre “mídia” e Dunga. Porém, o assustador foi o apagamento de alguém que significava a espinha dorçal do time. Incríevel o que se pode fazer ao contar a história. Abraços!
Parabéns Rubem👏👏
Saudades de estar com vocês.
Eu voltarei logo. Grande abraço
Obrigado, Maria Helena! Saudades de ti! Beijos