Número 438
Rubem Penz
“Eu te digo: estou tentando captar a quarta dimensão do instante-já que de tão fugidio não é mais porque agora tornou-se um novo instante-já que também não é mais.”
Clarice Lispector
Em 11 de setembro de 2001, se por acaso você estava no escritório, tomado por projetos urgentíssimos, vitais, certamente parou de trabalhar no exato instante em que alguém trouxe a notícia: Uma aeronave entrou no alto do World Trade Center. Vejam isso! Vejam isso! E, bem quando pensava em recomeçar as tarefas, houve o choque do segundo avião.
Nas salas de aula, a notícia não tardou. E os professores de história sentiram todo o peso da História. Os de física e matemática puderam calcular a envergadura do fato. Aos professores de línguas faltaram palavras. Os mestres da geografia mediram as consequências, enquanto os de educação física acusaram o golpe. Até hoje, professores de religião, os bons, tentam descobrir como seguraram suas lágrimas.
Em casa, atrasou o almoço. Onde andaria a fome? Os enfermos, hospitalizados ou sofrendo, descobriram-se acompanhados pelo mundo inteiro. As contrações das gestantes estiveram intercaladas com presságios. Queimaram pães pelos fornos do planeta, desandou a maionese. O delírio dos malucos aparentou lucidez. Engarrafamentos foram relativizados, ligamos aos nossos filhos, ligamos aos pais.
Sim, se você estava no carro, ouvindo rádio, diga: conseguiu resistir sem chamar para casa para saber se assistiam o noticiário da TV? Ou, no mínimo, para descobrir se o que diziam era verdade, mesmo? E, chegando a qualquer destino fosse, havia outro assunto senão o ataque às Torres Gêmeas?
As pessoas que circulavam em supermercados ou no shopping durante muitas horas, absortas entre compras necessárias e consultas supérfluas, tinham o rosto sereno como um domingo de sol no parque da infância. Em poucos minutos, o semblante refletiria o tão grande choque. Rasgara-se a terça-feira ao meio.
Eu? Estava em uma loja, comprando material de construção para a casa que hoje habito. Como todos os que não viveram as Guerras Mundiais, custei um pouco a crer na hipótese de ser eu, assim minúsculo, testemunha de algo para ser rememorado por uma quantidade incerta de anos, em todos os países. Caíra o Muro de Berlim fazia pouco tempo, dando-me a experiência de acompanhar a História acontecer nos telejornais da noite. Porém, ao vivo, no instante já, fui pego sem reação. Quando os prédios ruíram, esqueci de mim. E, até hoje, tento compreender aqueles que, de alguma forma, pareciam comemorar.
E você, onde estava? Sei que sabe.
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Rubem, que coisa. O já, em seguida, já era (deveria ser jaz).
Eu tava no escritorio, sob a papelada, e de bocaberta corri a ligar para o então marido q, morando na Filadélfia, iria a qq momento a Manhattan buscar uma câmera q deixamos na assistencia e que de lá nunca saiu. Já era…hora de voltar.
Tati, e parece que foi ontem, né? Adorei (mórbido, isso) o teu instante-jaz. Muito hábil! Agora, me diga: terei comigo essa sensibilidade toda na Santa Sede Safra 2012? Conto contigo para prosseguir em alto nível! Abraços, Rubem
Só para variar, mais uma ótima crônica. E eu estava em casa… Alguém ligou dizendo: Liga correndo a televisão! E foi então que vi o inacreditável (o segunda avião batendo na segunda torre)… Abraço, Mara
eu tava voltando da aula, indo para um almoço, e parei na porta ao ver a notícia…
outros atentados vieram a minha mente, no alto da minha mente, depois daqueles aviões, e eu já nao sabia o que pensar…
pensei que se eles pensaram tanto para arquitetar aqueles prédios, outros pensaram tantos para derrubar, eu preferi entao parar.
Mara, o cinema jamais conseguiu o impacto do segundo avião, visto por milhões de pessoas ao vivo… e de verdade! Me arrepio só de lembrar.
Abraços, Rubem
Gi, o WTC foi o atentado master… Não sei o que pode ser igual (ou maior) do que ele… Tomara que nada! Abraços, Rubem
Entrando no Praia de Belas para comprar o presente do meu filho que nasceu em 12 de setembro, quando vi numa TV da vitrine aquele filme que eu, mesmo cinéfilo de carteirinha, não reconhecia. Parei para olhar. De fora, não ouvia o que se passava na loja – ainda fechada – e achava que a correria lá dentro era normal, pré abertura. Minutos depois, o segundo avião. Por uns instantes, até apreciei os efeitos especiais, tão reais… Então, a notícia chegou. Catei o celular e tentei ligar para minha irmã que mora nos EUA. Aí começou o desespero, pois tiham cortado as comunicações. Foi um dia difícil. Até aquele dia, a pergunta era “onde estavas quando assassinaram o JFK?”. Agora é esta. Gostaria que fosse “onde estavas quando acabaram com o terrorismo?”, “onde estavas quando o PT caiu?”. Sei que é utopia, mas não custa sonhar.
É verdade, Marcelo: deu bug nas telecomunicações no 11/09. Tinha me esquecido desse detalhe (nada) pequeno. O que contribui para o aumento da tensão… Grato, abraços, Rubem