Número 496
Rubem Penz
Engana-se quem imagina que é fácil, confortável ou ao menos indolor ser alguém moderado. Essa é uma opinião bastante comum entre os radicais:
– Veja, ele não se compromete, não luta. É um frouxo!
Para os que vivem nos extremos, todo moderado é covarde. Fraco, volúvel, inconfiável. Jamais pegará em armas. Seguirá as normas estabelecidas, obedecerá as leis, recuará diante do confronto. Eu, reconhecendo-me um moderado (perdão, bravos), ouso discordar e vou defender a classe. Há muito esforço para habitar o meio termo e conviver em harmonia com os extremistas. Serenidade demanda paciência. Suavidade é a mãe de todas as forças.
Puxando a brasa para cima do muro, o moderado é, na verdade, um corajoso: tem peito suficiente para admitir que pode estar errado e, por isso, se dispõe a ouvir o outro. Quanta bravura demanda essa atitude. Vivemos num mundo em que o homem se acostumou a erguer paredes de proteção, e um delas é a das certezas. Colocar em dúvida suas convicções diante de um argumento plausível é implodir a barreira para, assim, expor-se. Contemporizar.
Também é comum confundir a política de não agressão com fraqueza. Cordialidade nunca foi sinônimo de subserviência. Ninguém mais é santo para oferecer a outra face diante da bofetada: basta estar atento aos sinais que precedem a violência e agir antes, de preferência. Ao menos em tempo de evitá-la. Assim como negar um cigarro é mais fácil para quem não fuma, impedir a desavença antes de o mal estar ser instalado sempre funciona.
Na maior parte do tempo, combate quem se sente ameaçado. Isto é, agride quem teme por algo como, por exemplo, parecer diminuído diante do outro – diante da altivez de quem prova ser capaz de abrir-se ao diálogo sem erguer a voz. É quando o moderado exercita sua capacidade de escutar, compreender, manter-se acessível. Todo radical, não importa a causa, ouve apenas a si mesmo. E, ainda assim, ouve mal, pois vive acusando os outros de tomar atitudes iguais as dele.
Claro que o mundo precisa da ação dos radicais. Neles está o estopim de grandes e importantes mudanças na sociedade. Por vezes, imolam-se pela bovina coletividade. Rompem paradigmas e viram a página da História. Porém, para cada dia de conflito, há mil outros de negociações. Assim, salto em defesa dos que comandam a paz. Vida longa aos moderados, homens e mulheres de muito valor e que raramente ganham estátua na praça.
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Os que comandam a paz?
Belchior tem sempre razão: “Meu bem, não pense em paz, que deixa a alma antiga”…Hehehehehe!!
BjO
Márcia, então sou jurássico… Adoro a paz! E o amor, mesmo que soe piegas. Beijão, Rubem