Número 501
Beckers Likör
Rubem Penz
Amarelo ouro, aromático, adocicado. Perfeito para deixar repousando sobre a língua até quase o ponto de anestesia. Sem a menor pressa, embriagar as papilas. Com o mesmo vagar, depois, permitir que o sabor ganhe profundidade e reverbere na boca por muito tempo. Já batia meia-noite quando, ao chegar em casa de um dia longo e proveitoso, pude sorver o precioso presente – uma linda garrafa em miniatura com Beckers Likör.
Procure nas melhores, piores, ou em todas as casas do ramo e morra de inveja – ele não estará em lugar algum. Segundo Jorge Alberto Becker, essa é uma receita exclusiva, de família. Atravessa gerações sendo transferida para apenas um dos descendentes e, no presente, o encargo lhe coube. Digo encargo, e não herança, porque não se trata de um depósito documental – há que se produzir a bebida. Só em estado líquido ela se mantém perene. Ingredientes, proporções e tempo são sementes que esperam a ação do homem para germinar, existir, florescer. Encantar.
Outra grande diferença entre uma simples receita – ou fórmula, uma vez que o Beckers Likör se irmana às poções – e seu precioso resultado é a combinação que ganha a integridade das ordens somada ao toque pessoal. Por exemplo, Jorge utilizou o leite de sua Mimosa, cujo mugido nunca ouvi, mas já tive a chance de ler. A cachaça é rara, feita em alambique artesanal por um vizinho de sítio. A delicada garrafinha e o rótulo são obras da querida Janice. Este é o ponto: se há leites e leites, cachaças e cachaças, será tudo novo a cada formulação, transformando a bebida em um inédito.
Por fim, e não menos importante, uma especiaria também é composta de ânimo, na acepção ampla da palavra. Tal qual um gênio das mil e uma noites, lá está o espírito do Jorge aprisionado na diminuta garrafa. Sim, pude perceber seu riso amplo – um autêntico riso em alemão – reprisado em meus próprios lábios ao provar o licor. É isso que acontece quando um amigo oferece a outro sua obra: um sorri, o outro é espelho. Irmanam-se na humana experiência de compartilhar a cultura expressa, no caso, em arte líquida. Dá-se uma prova de perenidade.
Meu Beckers Likör será economizado feito roupa de domingo. Chegou para galgar o posto de bebida de ocasião: exigirá respeito, protocolo, culto. Nada menos do que copo de cristal, música de qualidade (ou silêncio reverente), paz interior. Sempre saberei a razão de estar bebendo porque sempre o farei movido pelo desejo. E, até mesmo quando estiver violentamente só, terei ao meu lado pessoas que desejo o bem na doce lembrança, justamente disparada pelo aroma e sabor.
Assim são os maiores presentes: sem preço.
Ainda não provei o meu ( sim eu tenho um, aliás dois) . Estou aguardando ocasião especial. Depois desta crônica, de dar água na boca, vou promover uma com urgência.
Forte Abraço Professor.
Faça isso, Tiago!
Vale a pena. Acho que sou mais pinguço que você: cheguei em casa e provei!!! 🙂
Abração,
Rubem
Rubem!!!
Gostei muitíssimo do visual do novo site. Ficaram ótimas as referências às colunas do Metro, às oficinas do SS e também ao teu – também brilhantíssimo – lado musical.
Um abraço e muito sucesso.
Marçal
Obrigado, Marçal!
Abração, vontade de tomar uma cervejinha,
Rubem
caro Rubem
Prá quem começou no biotônico fontoura, esse licor é o máximo!
Um abraço
Jorge Bledow
Ahhhh!
Sim, o Biotônico mereceria uma crônica, Jorge Bledow! Mas o licor saltou na frente.
Abração, valeu,
Rubem