Coluna do Metro Jornal em 03.09.2013
Algo mais, além da primavera, chega em setembro: a saudade. Se a folhinha da parede marca para dezembro a passagem dos números, é no meio do ano que ocorre a transmutação do calendário biológico ao sul do planeta. O colorido esforço da natureza em se reinventar para perpetuar a vida, de tão contagiante, quase apaga a falta do que findou em agosto. No meu caso particular, há dois finais de ciclo: perto da virada do mês, tanto aniversario quanto concluo as aulas da oficina Santa Sede.
Quando imaginei uma oficina de crônicas para ser realizada na mesa de bar, sujeita às interferências do ambiente e impregnada de boemia, mirava a reprodução do cenário que emoldurou a geração de ouro da crônica brasileira. Nos anos 1950, uma seleção de astros deixava as redações dos jornais e partia para os botequins. Ali, colhiam os humores da cidade e debatiam sobre sabores e dissabores da vida. Tudo acompanhado de uma cerveja bem gelada ou um chope aveludado. Só quem já teve uma rotina de encontros em bar sabe o quanto é bom.
Ao mesmo tempo, quando estabeleci a regra de renovar a turma a cada ano, para que a próxima edição da antologia sempre revelasse novos cronistas, apostava no mágico poder da saudade: deixar depositado nas páginas do livro “Santa Sede, crônicas de botequim” o registro de um período inesquecível da vida dos confrades. Só não imaginava que o pessoal ficaria assim tão unido, tão amigo, tão íntimo. Uns dos outros e todos de mim. Morro de saudade dos laços estabelecidos pelos oficinandos e, por isso, vejo reforçado tal acerto.
Cumpro o ciclo da natureza. Em setembro, junto com a primavera, iniciam-se novas turmas da oficina de introdução à crônica: “Aperitivo Santa Sede”. Sempre nas segundas-feiras, no boteco Apolinário, Cidade Baixa. São dois horários: 18h30 (para quem não deseja a noite) e 20h (aos que a preferem). Dessas turmas, alguns terminarão selecionados para a “Santa Sede Safra 2014”, marcada para março. Se você, leitor, gosta de escrever, saiba que em nossa mesa são bem-vindos médicos, engenheiros, advogados, professores, psicólogos… Todas as mais incríveis ocupações já foram contempladas nas várias edições passadas.
Enquanto escrevo, ainda há vagas. Adoraria vê-las preenchidas por leitores do Metro Jornal, pois são pessoas que acompanham o quanto sou reverente ao gênero. Terei muito prazer em conhecer vocês. Isso acontecendo, no futuro, sentiremos a boa saudade. Para informações e inscrições, faça contato. Rápido!