Depois da Estagnação, o declínio

Rubem Penz

Se existem dois conceitos que jamais podem ser confundidos, são eles estabilidade e estagnação. Um, serena nossa existência, equilibra, embasa. Outro, promete nosso fim, muitas vezes com anos e anos de adiantamento. Quando estáveis, nada nos impede de permanecer em evolução. Estagnados, estamos fadados ao declínio. Uma pessoa estável pode tanto ser conservadora quanto revolucionária – aliás, estabilidade é algo que sempre qualifica suas posições. Aquele que se permite estacionar, não importa de que lado esteja sua linha de pensamento no espectro social, termina apenas e tristemente anacrônico.

Tudo isso, mais ou menos organizado, passou pela minha cabeça numa conversa recente com um bom amigo. Suavemente mais velho do que eu, bem situado na vida (na certa ocupa uma posição ambicionada por dez entre dez colegas de profissão), atravessa uma crise muito construtiva. Em suas queixas, deixa clara a forte resistência interna em se deixar estagnar. Outros quantos, muitos talvez, passam por estas mesmas experiências com maior ou menor consciência – porém, sem reagir. Para eles, há uma evidente confusão de conceitos, mascarando a paralisia com uma face de constância. Chocam o ovo da serpente. Depois, será tarde.

Pode ser este um drama localizado. Um enigma de geração. Da minha geração, diga-se. Logo, também um drama pessoal. Reconheço por dor interna o quanto nos custa fazer um balanço desapaixonado de uma longa trajetória de vida e, desta forma, encontrar ânimo para evitar tanto o berço dourado dos louros, quanto o fundo esquecido da gaveta. Há perigos necessários para serem experimentados durante este balanço: um deles, descobrir que o tempo passou sem que nossas potencialidades fossem exploradas em bom grau. O medo do espelho pode levar à fuga. No passo seguinte, ao ocaso.

Não são todos os que, como meu amigo, se antecipam e reagem contra uma obsolescência prematura (cuidado: a extensão de nossa expectativa de vida alterou muita coisa). A primeira lição a ser retirada é vislumbrar, mesmo na estabilidade, amplos espaços de crescimento. A segunda, e mais importante, é realizar o fato de que, ao pararmos, ficaremos inexoravelmente para trás. De certa forma, acolho nas oficinas literárias homens e mulheres se vacinando contra a estagnação. Outros, em necessário tratamento. Todos procurando nos desafios criativos o combustível para continuar em movimento. No percurso, reconhecem nos colegas almas (gêmeas) inquietas, mentes arejadas, corpos que agitam. Vida em alto nível. E na ascendente!

Crônica publicada no Metro Jornal em 11.08.15

 

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