Tanto o Brasil quanto o Rio Grande do Sul vivem momentos delicados e sofrem com a falta de recursos. Eu sei que esta frase soa como chover no molhado. Mas a imagem ideal a ser escolhida é: soa como semear em terra seca. Na raiz do problema, as administrações públicas estão gerindo uma estiagem monetária causada menos pela falta de dinheiro em si, mais pelo desperdício endêmico dele. São tantas despesas inférteis, tantos desvios criminosos, que escasseiam recursos para irrigar o indispensável, o frutífero e, claro, o imensurável.
Como a maioria dos brasileiros, considero vasos indispensáveis a serem atendidos pelo regador público os de sempre: saúde, educação e segurança. Nem se trata de bom senso, pois está na Constituição o dever do Estado em reverter recursos captados em prol do cidadão. É de lembrar que o governo administra o que primeiro retirou, e devolver os serviços básicos é sua responsabilidade e obrigação. É revoltante ver fecharem as torneiras que abastecem áreas vitais.
Os canteiros frutíferos aos quais deveríamos drenar esforços estão ligados à infraestrutura. São eles bons modais de transporte para escoar nossa produção; energia suficiente e a bom custo; justo financiamento para quem trabalha; estrutura de saneamento e habitação. Enfim, um terreno preparado para produzir mais e melhor – atrasados que estamos no cenário externo.
Atendidos estes dois primeiros solos (indispensável e frutífero), ainda precisam existir valores reservados para as floreiras do imensurável. Isto é, à cultura. Primeiro, porque é bom negócio: a arte talvez seja o bem com maior valor agregado, além de gerar divisas na exportação, promover o turismo e movimentar uma cadeia de empregos mais numerosa do que setores ditos estratégicos (países desenvolvidos jamais negligenciam este potencial). Depois, pela razão do valor da cultura ser difícil de ser medido pelo caráter inestimável que adquire no tempo. Certamente com dimensão muito maior do que tecnocratas míopes podem alcançar.
Há razões de sobra para este desabafo. Vejo o governo gaúcho, este recém-eleito, incapaz de escolher qual horta regar. Secam os vasos do indispensável, morrem os canteiros frutíferos, mas ao solo estéril da burocracia (da rapinagem?) sempre há recursos. E o incomensurável? Oh, dor! A interrupção de programas como “Autor Presente” e “Lendo para Valer”, ambos ligados à literatura, entre outros, dão a dimensão da estiagem mórbida. Há algo fazendo mais falta do que dinheiro: coragem e competência. Cultura, meus caros, é investimento.
Crônica publicada no Metro Jornal em 20.10.15