Dia do exame de consciência

Dia do exame de consciência

Rubem Penz

Vinte de novembro pode e deve, sim, ter relevância para mim e para os demais brasileiros igualmente descendentes de europeus. Não por ser o Dia da Consciência Negra – algo que, por maiores méritos a reconhecer, jamais poderei alcançar voz própria. Nenhuma novidade: nunca, em algum dia da minha vida, em qualquer hora, minuto ou segundo, senti o menor vestígio de discriminação. De preconceito, desconfiança. O máximo de estranhamento foi por eu falar português fluente – na primeira vista, sou percebido como turista no Brasil brasileiro. Mas pode, sim e muito, ser importante para significar o Dia do Exame de Consciência.

E não falo em tese. Sem orgulho, no meu próprio exame, encontro fácil:

  • Antes mesmo de tecer qualquer julgamento de valor, lamento sequer notar a ausência de negros em muitos lugares os quais frequento socialmente. Ou, bem pior: nem notar que estão, sim, mas ali presentes trabalhando. Essa naturalização é vexatória. Tenho vergonha, preciso melhorar e muito.
  • Porém, ainda que pareça contradição, estou contrito ao festejar a presença de um casal negro, ou de uma família, ou mesmo um só indivíduo nos lugares em que frequento socialmente. Isso não é motivo de júbilo. É, na melhor das hipóteses, a exceção para confirmar a norma. Certo, certo mesmo, será quando eu estranhar a ausência de negros à minha volta.
  • Como disse no princípio, contra mim, o racismo não passa de uma abstração, um “como eu me sentiria se…”

  • Abomino em mim a desconfiança, quando não o temor, ao notar que um negro olha para mim antes de nos aproximarmos em lados opostos numa calçada, à noite. Mentiria se escondesse (até de mim) ser menor o sentimento com relação a um branco. Hoje, lamentavelmente, todos desconfiamos de todos. Por que jamais penso que ele me olha com igual apreensão? Esse é o ponto.
  • Peco, também, ao ser meio cego, quase surdo, às sutis manifestações de preconceito racial imiscuídas em nosso cotidiano. Como disse no princípio, contra mim, o racismo não passa de uma abstração, um “como eu me sentiria se…” Ter a percepção disso é bom, mas ainda é pouco. Quero aprender, todos os dias, a fazer respeitar as nossas diversas cores bem a flor da pele. Nada poderá passar em brancos.

Nem preciso explicar as razões de esse tema estar mais próximo de mim, agora. Também meu interesse direto. E talvez repouse aí minha maior falha. Já deveria ser um aguerrido soldado da causa da igualdade desde sempre.

 

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