A infalível teoria do dobro

A infalível teoria do dobro

Rubem Penz

Avanços na saúde e bem estar elevam a expectativa de vida dos brasileiros.  Intervenções estéticas deixam cada vez mais difícil saber a idade de alguém. A natureza laboral torna precoce a aposentadoria compulsória de um intelectual aos 70 anos, e tardia a de um trabalhador braçal de mesma idade. Nesse quadro, como saber se alguém é realmente jovem ou velho? Por isso, apresento aos leitores minha “Teoria do Dobro”.

Segundo ela, “velho é quem tem o dobro da tua idade”. Simples assim: para um adolescente de 15, estamos velhos aos 30 anos. Um jovem adulto de 20 anos julga velho um quarentão e, aos 25, apenas com 50 galgamos o status de velho. Aos 30 anos emparelhamos ao estatuto do idoso: 60. Com 35 a velhice chega aos 70, com 40 aos 80 e, com 45 anos, fica impossível negar a velhice de quem está com 90 anos completos. Ditada a regra, passemos às exceções.

Primeira: como é impossível ser criança e velho ao mesmo tempo, a Teoria do Dobro troca o termo “velho” por “grande” para manter–se intacta. Logo, para um bebê de meio aninho, o outro de um ano parece grande. Do mesmo modo que é grande a criancinha de quatro anos ao lado de uma com apenas dois. Quando temos sete anos, é muito complicado jogarmos bola com a gurizada de 14, pois são violentamente grandes. E, nos primeiros sopros de sexualidade, lá pelos 12 anos de idade, aquela vizinha já grande, aos 24, é praticamente inatingível justamente pela envergadura.

… tome a Teoria do Dobro e veja quanta gente te considera velho …

Segunda exceção: está estatisticamente comprovado que raros humanos alcançam a marca centenária e, mesmo que a quantidade venha avançando, isso é algo extraordinário. Porém, a teoria do dobro perde sua validade após os 50 anos de idade por outro motivo: depois de meio século, qualquer pessoa de bom senso percebe que o termo “velho” está mais ligado a como vivemos, e não necessariamente ao tanto de tempo que indica a carteira de identidade. Sábia e convenientemente, troca-se o “ser” pelo “estar” idoso. É quando alguém pode estar caquético aos 45 e digno de inveja aos 90 anos de idade.

Agora, duas boas e uma má notícia. A ruim: tome a Teoria do Dobro e veja quanta gente te considera velho – no meu caso, já é um batalhão. Para alento, uma boa nova é que, na medida em que envelhecemos de verdade, o número de pessoas que nos vê assim, e que realmente fazem a diferença no dia a dia, tende a decrescer em dobro. A melhor notícia, porém, é a consciência de que se pode estar velho com qualquer idade e, ao contrário, ser jovem para sempre.

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