Nostradamus
Rubem Penz
Estou estranhando, estranhando muito, sua ausência. Onde andará Nostradamus numa hora dessas?
Parece inacreditável que, desde fevereiro, com ápice em março e sem data para terminar, tudo que leio e vejo e escuto e recebo no Whatsapp e converso tenha um só assunto o qual, de tão avassaladoramente dominante, sequer preciso nominar. E Nostradamus não apareceu ainda. Logo ele.
O tema está na apelativa manchete do jornal e, se não bastasse, nas manchetes dos cadernos também. No esporte, só se fala disso; na editoria de cidade, também; todos os cronistas cantam idêntica ladainha. Na política, então? A mesma tecla é batida dos palácios de Brasília ao Paço Municipal, não sem antes cruzar a Praça da Matriz. Isso em Porto Alegre, claro – ainda que o mesmo fenômeno ocorra em cada uma das capitais de estado ou humildes municípios.
Será que sou só eu a sentir falta de Nostradamus? Não acredito.
“… assim, o falso messias nascerá nas américas para disputar forças com a peste e…”
Até onde eu imaginava, já teríamos uns vinte ou dezessete mil estudiosos da obra do alquimista francês Michel de Nostredame (1503-1566) esquadrinhando suas profecias em busca de uma que servisse melhor do que cloroquina para os tempos em que estamos passando. Algo como:
“E quando o vermelho e o laranja brigarem para ver qual será a tendência para tingir as batas dos neomonges da humanidade, uma força invisível surgirá etc. e tal.”
“Ao inocente e injustamente castigado bater de asas de um morcego no Oriente, vítima do apetite humano, o Ocidente se curvará diante de…”
“… assim, o falso messias nascerá nas américas para disputar forças com a peste e…”
Olha, não dou até o final de maio para encontrarem uma frase ao menos, meia dúzia de palavras as quais, contextualizadas ou não, resgatem o ar profético e necessário para tantos desafios e provações.
Força aí, Nostradamus! Esperamos por você para nos apaziguar.
“Força aí, Nostradamus!” Kkkkk… Muito bom!
Valeu, Comendador!