Go back to the 1970
Rubem Penz
I don’t want to stay here
I wanna to go back to Bahia
Paulo Diniz
Todos os que já conversaram comigo sobre música sabem que a primeira letra completa cantada por mim, com direito a interpretação e plateia, foi Pandeiro de prata, de Túlio Piva. Samba composto em 1968, pegou-me com quatro anos de idade – tempo certo para um leãozinho se apaixonar pelas luzes do palco. Nem o jovem intérprete, nem o autor, cresceram no morro, muito menos tiveram os braços calejados pela vida má, mas isso não embaça o brilho do momento. Pouco depois, veríamos nascer um grupo de música em casa, com minhas irmãs e meu irmão-primo, e a paixão pela melodia e letra nunca mais arrefeceu.
Porém, minha memória é falha. Por exemplo, fui surpreendido pela notícia de que Quero voltar pra Bahia, de Paulo Diniz, foi sucesso em 1970. Isso significa que praticávamos o cantar coletivo desde os meus cinco ou seis aninhos (oito ou nove da Carla, nossa decana). Sim, porque o inglês atravessado do refrão era repetido com alegria e em altos brados para as famílias pela turma de crianças do número 495 na Av. São Pedro. O corpo da música, a mencionar o Pasquim e algumas dores que não sentíamos, não fazia muito sentido. Mas o refrão, ah o poderoso refrão, esse estava firme. E ainda dava margem a polêmicas de interpretação, colocando em dúvida o som e o significado das palavras. Quanto mais errado, mais sorrisos arrancava dos ouvintes.
Concluo não ter sido um astro infante de um grupo de baby band apenas por uma questão de enorme antiguidade.
Pensava nisso transposto para estes novos anos 20. Fossem meus pais os pais de hoje, e eu hoje a criança de 1970, haveria até uma chance de sucesso viralizado nos filmezinhos de celular. Quem não curte e compartilha performances engraçadinhas, às vezes maravilhosamente desastradas, de crianças pequenas trilhando o mundo das artes musicais? Cantando, dançando e fazendo graça? É muito fofo! Não digo a perfeição do The Voice Kids: falo das apresentações espontâneas e mal arranjadas, mesmo. Quanto mais natural, maior a chance de se espalhar. O inglês torto daria o sabor especial, o tempero que tanto faz acelerar os compartilhamentos.
Concluo não ter sido um astro infante de um grupo de baby band apenas por uma questão de enorme antiguidade. Sequer meu discurso de formatura na turma de pré-primário, gravado em rolo, galgou maior relevância do que os contidos aplausos do pequeno auditório do Colégio Metodista, hoje fechado e esquecido na memória de um 4º Distrito de Porto Alegre que luta para retomar sua importância no mapa metropolitano. Sim, minha oratória também foi apagada ou perdida. Resta, é claro, a crônica, e a esperança que você imagine uma turminha faceira, alegre e sorridente, cantado a toda voz: “Ai dont uante istei ria, ai uana to gobéqui to Bahia”.