Perguntas (im)pertinentes
Rubem Penz
Enquanto leio as notícias sobre as gentes que se acharam no direito de reivindicar os R$600,00 do Auxílio Emergencial e, por qualquer ângulo, não os têm, bate um desânimo. Se você acha que a razão seria em eu crer em pessoas imaculadas, ilibadas, infalíveis, errou. Aliás, tenho baixa paciência também com este momento de apedrejamento de bruxas porque o amigo do WhatsApp disse que assim o era, essa Nova Inquisição festejada e denunciada por uns por e outros em momentos opostos. A modorra vem de uma incredulidade no potencial humano de agir em benefício próprio sem reconhecer nem mesmo os limites de uma pandemia atroz. Diante do quadro, o máximo que consigo é compor perguntas (im)pertinentes:
A Lei de Gerson (escrita pelo redator do comercial de cigarro, não pelo jogador) foi promulgada quando, que eu não vi?
O seu “achei que podia” foi baseado em quê, se não nas regras estabelecidas?
Passar tanta vergonha agora tem preço? E é tão barato assim?
Ah, você NÃO está com vergonha? Bom, eu estou com vergonha alheia…
O problema é roubar (apropriar-se do que não é seu), ou é ser flagrado roubando?
Terá envergadura moral para falar mal de político safado depois dessa?
Todos são palhaços, só uns são espertos? Você se acha esperto? Me acha palhaço?
“E os outros?” se aplica neste caso? Ou basta? Justifica? Redime?
Você já roubou um banco “só pra ver se cola” e, depois de descoberto, disse que era só devolver tudo estaria OK?
Você passou fome algum dia? Não “estar com fome”… Passar fome mesmo, e em família? (Antes que pergunte, já adianto: eu, não)
Frio, passou? O vento gelado entra por frestas em seu quarto? (Eu, não, ou só em condições especiais, quase por escolha, nunca como rotina)
Humilhação de estar devendo uma vela para cada diabo, passou?
Se considera injustiçado com tanto alarde por tão pouco dinheiro? Aliás, acha pouco dinheiro?
Sabe o quanto esse valor faz diferença na vida de milhares de brasileiros?
Estarei um pouco inconveniente? Inclemente? Impertinente?
Teria mais perguntas. Mas a preguiça é tanta…