Se o novo corona fosse, seria…
Rubem Penz
Se o novo corona fosse um carro, seria um rabecão (novas gerações, este é o apelido para o carro funerário, outrora sempre preto com ou sem detalhes em dourado, hoje quase todos brancos – e acho mais bonito, mais leve…);
Se fosse um prato de comida, seria qualquer um – todos ficam sem sabor, mesmo, este é um dos principais sintomas da moléstia;
Fosse um filme, ah, aí fica difícil… Depende da experiência de cada um. Para mim, poderia ser “Feitiço do tempo”, e eu estaria preso num incontornável Dia da Covid-19;
Se o novo corona fosse uma árvore, quem sabe uma paineira? Não, não tenho nada contra a paineiras. É só por causa dos espinhos no tronco, gente;
Se fosse um sentimento, seria a saudade – saudade derivada de todas as ausências temporárias e definitivas, de todas as distâncias, de todas as rotinas abandonadas;
Fosse uma revista, seria a Manchete. Afinal, nenhuma doença antes ocupou tantas vezes as letras garrafais dos jornais pelo mundo (mais do que antigas pestes porque há milhares de veículos, hoje);
Se o novo corona fosse um instrumento musical, seria o clarim a entoar tanto os toques de batalha nos hospitais e postos de saúde, quanto solidariamente o melancólico toque de silêncio;
Se fosse um bairro, ah, o novo corona seria Tristeza (bairro lindo, é só por causa do nome);
Fosse uma cidade, aí fico em dúvida entre Sombrio, em Santa Catarina, ou Não-me-Toque. Decida você…
Está precisando de uma atividade criativa no distanciamento social? Crie outras alternativas como essas. Não resolverá nossos problemas, mas ocupa a mente.
PS: hoje, 19h30, tem Sarau Master Class virtual para o livro “Marias e Clarice”, nosso tributo ao centenário de Clarice Lispector. Live no perfil facebook.com/oficinasantasede. Participe! É só entrar na página e assistir sem sair de casa.
Se fosse um fluido, seria lágrima…
Que triste, né?