O corpo que habito
Rubem Penz
Sabe a expressão “você deixa …, mas … não deixa você”? Pois, nas duas conotações em que é aplicada, uma pejorativa e outra laudatória, a verdade se apresenta: o passado nos constrói, ora nos aprumando, ora entortando. Moldando, sempre. Nem os mais inconformados escapam de suas conformidades, de suas formas, contornos, fardos e fatos históricos. Se não evidentes, no mínimo denunciados por fotos, conversas fiadas e fiapos de hábitos antigos a costurar a rotina.
Um exemplo: jamais deixo de notar uma criança com pés tortos, uma perna mais curta do que a outra, graves vícios de postura. Preciso controlar o ímpeto de perguntar aos pais, ou adultos que estajam em sua companhia, sobre queixas de dor, tombos constantes, desconforto. Indagar se já não repararam no detalhe, eles próprios, ou o pediatra – sempre com o cuidado de dizer que se não há nada de errado com a criança (ou, no mínimo, que tudo é bastante comum e contornável). Sabem por que isso acontece? Por já ter sido professor de Educação Física.
Saímos da ESEF (Escola Superior de Educação Física), mas, de nós, ela não sai – até mesmo quando mal chegamos a exercer a profissão, meu caso. Nunca mais a saúde física, a postura correta, a atenção aos detalhes que envolvem os movimentos deixará de ter importância. Para sempre nos acompanhará a admiração pela performance atlética e pela incrível superação dos limites do corpo. Quem experimentou um dia a chance de ensinar os fundamentos de um esporte e viu a satisfação do aluno ao galgar êxito, jamais aceitará a separação entre corpo, mente e sentimento – tudo nos habita. Ouso palpitar que esses bons vícios atenuam certa saudade das canchas universitárias.
Hoje, primeiro de setembro, é o Dia do Profissional de Educação Física – dia dos professores que jamais passam invisíveis pela vida dos estudantes. Homens e mulheres situados na mesma linha de influência dos profissionais da saúde, ainda que nem sempre percebidos com tal importância. E, faz poucas semanas, ex-colegas da ESEF criaram um grupo para colocar a vida em dia – uns saberem dos outros, do que fizeram nestes 34, 35 anos que nos separam. Um reencontro emocionante e ideal para comprovar minha teoria: acontece como se ainda estivéssemos ao lado do Jardim Botânico, vestindo calções e camisetas, dispostos e ágeis.
Aqui vai minha homenagem aos que seguiram a carreira. Minha simpatia, respeito e admiração. A certeza de que fizeram a diferença na vida de muitas pessoas nestas décadas que se passaram. O tempo, ah, o tempo – esse Usain Bolt!
Presente na 285ª terça-feira consecutiva. Ou perto disso.
Obrigada, Rubem!
Carinho,
Auri
Tudo isso?
Agradeço eu.
Abraço, Rubem