Jabuticab-19

Jabuticab-19

Rubem Penz

Antes de descer o olhar para as linhas que seguem, vale o aviso: sou leigo. Por outro lado, razoavelmente atento às notícias e, de certa forma, alguém perplexo. Portanto, posso ofertar uma análise que reflita uma parcela gigante da população: os atentos e perplexos leigos sobre os temas da saúde em dias pandêmicos. E o que tenho pensado, afinal? Algo recorrente: há o mundo, há a História, e há nossas jabuticabas frutificando em todos os temas, inclusive na crise do novo coronavírus.

Ouço as notícias da Europa, dos países orientais e da América do Norte (mas, sem nenhuma surpresa, nada se sabe ou se comenta sobre a África). Então, vejo os nossos gráficos, números, conclusões. E tudo parece diferente. No Brasil, testa-se menos do que deveria, e não são renovadas as verbas para uma pesquisa capaz de indicar um quadro mais próximo da realidade em um lugar em que se testa menos do que deveria (com infinita economia de dinheiro público). Normal.

Também adotamos um distanciamento social nem lá nem cá – suficiente para abalar a economia, insuficiente para “baixar a curva”. Certo, somos muitos brasis, e o que aconteceu em Manaus não aconteceu em Porto Alegre ou Belo Horizonte; a realidade de São Paulo não combina com a de Curitiba ou Vitória; Salvador é diferente do Recife, que em nada se parece com Palmas ou Goiânia. Brasília é uma coisa, Rio de Janeiro é outra. Mas, se a receita é conhecida, não dá para ser menos diferente? Ah, esqueci: aqui nem a receita é consenso. Normalíssimo.

Nessas todas, se houver alguma chance de sucesso no combate à covid-19, será na base do “confundir o vírus”. Ele, que nem pensar pensa, pode sair daqui pelo simples fato de ser muito complicado ser brasileiro. Só nós conseguimos isso, de fato. Qualquer outro habitante do planeta ficaria estupefato com as notícias sobre nossa maneira de lidar com as coisas. Todas as coisas, quaisquer coisas. Por exemplo: para evitar aglomerações, não teremos Natal Luz, Reveillon, Carnaval – e cito apenas três ações turísticas enormes. Mas, eleições municipais (com voto obrigatório, como rege a lei), que movem milhões de pessoas, teremos. Né?

Sim, sim, fico chocado ao ver uma praia cheia, calçadas e bares lotados, praças invadidas por hordas. São momentos em que cada um por si decide mandar a prudência às favas. Agora, meia dúzia decidir movimentar a todos para a rua ao mesmo tempo (e para lugares fechados) e, para tanto, drenar milhões de reais em escasso dinheiro público só para fazer um pleito (e financiar campanhas), aí parece normal. É isso, achei! Queremos nos livrar do vírus apostando no fato de que nem ele suporta tantos absurdos, e vai fazer seu passaporte correndo. 

 

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