Clarear

Clarear

RubemPenz

Neste domingo, nossa manhã clareou como poucas vezes na vida. Sim, esteve inundada de luz, aquecida em medida certa para conforto da alma. E clareou sem chegar ao ponto de ofuscar a visão – muito ao contrário, fez-se uma luminosidade pela qual nossos olhos se viram capazes de contemplar desde o ínfimo detalhe, até o perfeito contorno do horizonte distante. Domingo de clarear.

Ah, e foi um meio-dia de domingo e claridade a pino para deixar no passado muitos dias de sombras ameaçadoras. De frio, solidão e dúvidas. Dias desorientados em que até as mais firmes convicções, ou os mais legítimos sentimentos, estiveram confusos. Clarear para dar adeus à vertigem de andar no escuro sobre solo instável, sem destino certo, avanços ou retrocessos – apenas a certeza de estarmos perdidos. Momento de reencontro. De amor.

A tarde deste domingo, como uma bênção, esteve igualmente clara. E a clareza trouxe consigo a vontade de passear e conversar e rir e, também, chorar. Choramos em dias claros, claro. A luz também existe para vermos nossas fraquezas, nossos arrependimentos, a tão diminuta potência diante das crises que nos atingem. Foi um domingo para perseguir a necessária lucidez, olhar para a vida sem medo de confissões, firmar propósitos.

Depois do colorido lusco-fusco que só as meias-estações proporcionam, a meia-lua rodeada de estrelas garantiu um final de domingo repleto de claridade. Ainda que a fria luz da TV nos trouxesse notícias a lamentar, estarmos juntos foi suficiente para garantir paz no coração. E deixamos o dia sumir ameno, familiar, rico em promessas de tempo bom.

Jamais seremos capazes de evitar as ameaças que vêm das sombras, mas, desde já, o simples existir deste clarear intenso e belo, servirá de guia. Clara, estrela guia. Clara, luz que acendeu em mim um desejo de iluminar o mundo.

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