Desimportâncias importantes

Desimportâncias importantes

RubemPenz

Quando se tem um tema dominante tipo, só por hipótese, uma pandemia com mortes aos montões e impacto na economia e nas relações sociais e na agenda política, fica até estranho prestar atenção em curiosidades do cotidiano. Sentimo-nos desperdiçando foco, sabe? O problema é que coisas estranhas seguem acontecendo, e convém falar sobre elas (você ainda não sabe, mas “sobre elas” é uma boa figura de linguagem para o tema abordado).

Assim, despertou minha atenção uma notícia fresquinha que deu no rádio: a pesada retenção de tráfego por causa de um acidente com um caminhão carregado de brita na alça de entrada da ponte que leva à Rodovia do Parque, uma das saídas e entradas em Porto Alegre para a direção do Centro do Estado. E isso não acontece o tempo inteiro? – seria o caso de nos perguntarmos. O problema está aí: são muitos acidentes com caminhões e ônibus em elevadas com efeito grave tanto em vidas, quanto em fluidez viária. Por quê?

Até onde eu saiba, se existe um lugar nas estradas com muitas placas de advertência e informação, ele é a entrada de uma pista elevada. Elas indicam a velocidade máxima (quase sempre com redução ao compararmos com a rodagem normal), o vão, carga e altura máxima, as regras de ultrapassagem proibida etc. Também parece óbvio que todo motorista – bem ou mal habilitado – intui ser este trecho um lugar de maior risco, o que pede doses extras de atenção e prudência para preveni-lo. A lógica nos conduziria à segurança de rodagem: como o perigo é inerente, todo cuidado é pouco.

Se há constantes acidentes nos leitos e alças de acesso às pistas elevadas, isso só pode ser explicado pela imprudência, imperícia, ou uma combinação das duas coisas no trânsito em termos gerais. Ou seja, algo que perpassa toda a linha de responsabilidade, que parte do indivíduo e chega às instituições. Na ponte, a ocorrência só aparece mais devido ao impacto de danos ser maior – direta e indiretamente – e também por ser mais visível. Quase escandaloso. No mínimo vexatório. E, quando abrimos o foco para ver o tecido social como um todo, é algo que explicaria outras derrapagens como, só por hipótese (claro), os percentuais trágicos em uma pandemia.

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