Te considero!
Rubem Penz
Hoje estive pensando se há diferença entre amigos e amigos de bar. Lembrei suavemente de um texto lido faz pouco sobre a amizade ser variada: uns para confissões, outros para ir ao futebol, outros para programas culturais, outros para lautas refeições etc. Hoje em dia, já tenho até amigos que só existem em ambientes virtuais, e está tudo certo. Mas, e a específica amizade de botequim?
Em resposta a uma mensagem eletrônica, referi a mistura ideal num amigo de botequim: ele ser polêmico, divertido e carinhoso. Polêmico para não deixar que a conversa permaneça muito morna, independentemente do número de chopes. Divertido porque de triste basta a quantidade de porcarias vindas no jornal. E carinhoso por tudo, ainda mais quando a polêmica subir demais a temperatura ou a piada for conosco. Porém, bastou um pouco mais de reflexão para me dar conta que isso não explica uma boa turma de bar. A verdadeira conexão existirá na variedade.
Na contra corrente dos algorítimos, uma mesa de botequim para a qual se quer voltar precisa de pouco mais do que uma afinidade – aquela que reuniu o pessoal. Pode ser o colégio, a faculdade ou o pós; pode ser a praia, a cidade natal ou a rua; pode ser o time de futebol, o esporte ou o hobby; pode até ser a famíla. Se a afinidade for forte o sucesso estará garantido. Dá trabalho? Dá: discordâncias aparecerão para colocar em xeque os laços afetivos e alguns podem até se afastar vezenquando – depois voltam. O importante é manter a alma do grupo.
Outra característica que deve existir para que uma turma seja longeva é a variedade de personalidades – e aqui muita gente não compreende o valor de termos amigos diferentes. A turma boa tem falantes e quietões – muitas vezes os mais precisos justamente por não falarem demais. Também há sedutores e recatados, pacíficos e enfurecidos, remediados e ricos, exibidos e humildes, doces e azedos, abstêmios e alcoólicos, avarentos e perdulários, progressistas e conservadores. Ao saber como são uns e outros, usufruimos da maravilha de lidar com as coisas da vida e da morte de modo diferente.
Por fim, uma mesa de botequim sobreviverá para sempre quando houver entre seus convivas o mais precioso dos sentimentos: a consideração – uma espécie de respeito, só que mais leve. Ela precisará ser de dupla via – aquela que oferto e a que eu recebo. Quando nós nos consideramos, concordar ou discordar deixa de ser relevante; ser assim ou assado é só traço de personalidade; ter dinheiro ou não determina coisa nenhuma; ser hetero, homo, trans ou qualquer denominação é particular. Nem mesmo ser alegre ou triste, ilustrado ou intuitivo, agnóstico ou temente a Deus – ou crer eu uma ou outra divindade – será capaz de arranhar a amizade forjada no respeito. Também jamais importará nossa profissão ou estado civil.
Consideração – para além da piada com os bebuns, eis a marca das amizades de bar.
Saudade das nossas mesas! Vi tantos de nós enquanto lia, que até me perdi…li e reli para matar a saudade! Maravilhoso o texto.
É verdade! A Santa Sede é mais do que um jardim – é um parque de amigos! Beijos, Dio!