Caminhos de volta

Caminhos de volta

Rubem Penz

Desde que minha vida literária começou (dava para datar como 1999 e 2000 ao vencer os primeiros concursos, ainda que prefira o lançamento de O Y da questão e outras crônicas, em 2007), cumpro com muita alegria cada oportunidade de encontro com os leitores. E são incontáveis viagens, principalmente dentro do Rio Grande do Sul. Cidade por cidade, faço ou reencontro amigos – e se isso não é felicidade, não sei o que mais seria. Pessoas sensacionais que só não estão mais perto em minha vida porque a distância e o tempo separam.

Porém, não são apenas pessoas que eu vejo. Outro contentamento nasce em visitar lugares diferentes e conhecer a geografia local, visitar espaços ligados à cultura, entrar nas igrejas e caminhar nas praças; ver escolas maravilhosas invertendo as expectativas de administrações públicas mais ou menos indiferentes; alimentar um otimismo resistente e uma esperança imortal quando em uma comunidade pequena e calorosa, completamente diferente da frieza das metrópoles – ainda que em grandes capitais outros encantos eu encontre.

Vamos para um exemplo bem próximo: estive (estivemos) em Santo Antônio da Patrulha semana passada, primeira agenda em quase dois anos. Protocolos e mais protocolos de saúde não impediram que eu sentisse o calor do município em minha alma. Faz uns vinte anos desde minha última visita, e bastou estar lá para pensar: por que demorou tanto? Conversei com amigos antigos quase como se fosse ontem e, com os novos, tive a impressão de conhecê-los há décadas. Hospitalidade está no DNA dos patrulhenses, habitantes de origem açoriana de uma comunidade entre as quatro mais antigas do Estado. De fato, só recebemos gentileza, educação, sorrisos e bem-querer.

Santo Antônio estava ali durante minha infância – uma parada quase obrigatória antes de chegarmos nas praias no período pré-FreeWay. E é muito bom saber que o município cresceu preservando suas raízes, pois na Cidade Alta encontramos a arquitetura antiga e na Cidade Baixa empresas familiares passando por gerações. Também festejo o orgulho de terem produtos tradicionais (cachaça, rapadura, sonho…), a Moenda da Canção, iniciativas sedutoras como o “Caminho Gaúcho de Santiago” e o turismo rural – tudo em menos de uma hora de deslocamento partindo de Porto Alegre.

Ah, quantas cidades moram em meu coração! Se por acaso você, leitor, é natural de uma delas e ficou pensando a razão de eu ainda não ter feito uma crônica assim dedicada, calma. É que fui acometido de uma excitação gigante pelo enorme tempo trancado em casa, sabe? E Antônio, por ser meu Santo de devoção, deve ter manobrado o destino para que o reencontro com as estradas acontecesse por sua intercessão. Daí para virar texto, nem contam os pedágios.

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