Rubem Penz
Para Soraya Jordão
Gostar de alguém é um processo que envolve ser apresentado e assimilar as primeiras impressões – tragicamente agravadas por nossa carga de preconceitos e felizmente mitigadas pela consciência de que os preconceitos dizem mais sobre nós do que sobre os outros. Depois, aquele bate-papo para servir de preâmbulo ao que será chamado de relacionamento – seja ele profissional, de amizade, parceria ou amor. Tudo com mais ou menos afeto, com menos ou mais confiança. Por fim, devo dizer que gostar de alguém leva tempo.
Todavia, há pessoas de quem gostamos de cara. Bateu, valeu. Simpatia à primeira vista. Da mesma forma como a inexplicável paixão instantânea (ou a aversão gratuita), o afeto imediato dispensa a cansativa cartilha da desconfiança, um espécie de manual prático para não cairmos nas mãos de aproveitadores. Não sei se você coleciona muitos casos assim. Talvez por sorte, meu álbum de fotografias os tenha em bom número. Evoco a ventura porque sou muito exigente, sabia? Ganhar-me rápido não é assim tão fácil.
Soraya, a quem dedico estas linhas, é um exemplo clássico de pessoa de quem gostei de cara.
Por exemplo, precisa ser inteligente. Não importa a formação ou a idade: pessoas espertas despertam o meu melhor – a troca. Quanto mais inteligentes, mais excitado fico – e aqui não sejamos limitados pelo desejo sexual, por favor. Agora, uma pessoa inteligente me perde quando é arrogante, o que desanda a maionese que iríamos bater no papo inicial. Outra característica maravilhosa é o humor. Humor inteligente, então, é praticamente irresistível. Por fim (para não ultrapassar o tamanho de uma crônica), é desejável que a pessoa seja generosa – lato sensu. Se você disser que muita gente tem tais características, sou obrigado a concordar em parte: sim, o número é bom. Agora, quantos revelam tudo isso de primeira? Aí é que a coisa pega.
Soraya, a quem dedico estas linhas, é um exemplo clássico de pessoa de quem gostei de cara. Espirituosa, inteligente, humorada, gentil e, ao mesmo tempo, contestadora, inquieta, severa e grave. Leve como nuvem onde a leveza se faz necessária, firme como rocha quando as convicções pedem. Capaz de rir de si mesma – a maior prova que existe de elevação pessoal –, tempero bem combinado com a irreverência educada para tirar sarro dos amigos (só teme perder amigos com uma piada quem não sabe fazer graça na medida certa). Com ela foi pá-e-pum.
Gostaria de saber se ela gostou de mim rapidinho, também. Ou, prudentemente, seguiu o conselho que toda mãe deveria dar: sempre desconfie de cronistas. Antes de abrir a guarda, espere chegar ao último parágrafo, quando, enfim, podem surgir confissões comprometedoras (maldisfarçadas de humor autodepreciativo).
Ah! Soraya… muito boa!
Obrigado, Altino!