Não, você não leu errado e eu não escrevi errado. Nem foi obra do acaso ou descuido de digitação. É apenas o desabafo de quem constata ser a Rodoviária de Porto Alegre uma das maiores concentrações de vigaristas da capital. Um viveiro de larápios explorando a fragilidade de quem utiliza este espaço inevitável, pois concentra um dos serviços destinados a uma das nossas garantias constitucionais: o direito de ir e vir.
Enquanto escrevia, Vanessa percorria a via crucis de atividades em auxílio a sua mãe, pela segunda vez furtada na Estação Rodoviária e entorno em menos de um ano – prova de que ali estão atuando quadrilhas especializadas em identificar vítimas com idade avançada, menor malícia ou vigor físico. Dinheiro, cartões e celular suprimidos de dentro de sua bolsa.
Um dos aspectos mais tristes de tudo isso é a primeira reação: responsabilizar a vítima. Penitencio-me por pensar que ela deveria estar mais atenta, andar com menos cartões e documentos, ser prudente ao falar ao telefone e todo o rosário de conselhos mais cabíveis em situações de guerra civil conflagrada. Pior: culpar sua idade. Ela não fez nada de errado e mais viver é uma bênção.
Para esse pessoal, o que falta em caráter sobra em covardia
Para esse pessoal, o que falta em caráter sobra em covardia. É quando sou tomado por outro sentimento digno de vergonha: a vontade de ver uma reação mais enérgica e imediata, a famosa tunda de laço nos vigaristas. Não, não me orgulho de almejar a violência reativa, sem julgamento ou lei. Mas fica muito claro que é a única coisa que temem, caso contrário não escolheriam vítimas sem poder de resistência.
Respirando fundo, volto ao controle. Vamos tratar de reforçar as orientações preventivas, abrandar o trauma, ofertar carinho e consolo. Também aproveito a modesta repercussão do que escrevo para aconselhar quem está com os pais e avós mais velhinhos: façam o mesmo. Prevenir é o que nos resta. E lavro meu protesto: as polícias e a justiça precisam fazer seu trabalho com mais eficiência. O crime, tão certo como a chegada dos ônibus nos boxes numerados, compensa.
Muito coerente e justo seu desabafo! Pena que não vai ajudar em nada.
Muita pena! Os comentários que recebo em direct demonstram ser muitíssimo mais frequente que eu pensava. 🙁 Obrigado, Venâncio
Sabe o que é mais lamentável? É que essa prática de tirar proveito de pessoas de idade não é só dos vigários do entorno da rodoviária. Empresas conceituadas no mercado fazem isso com o conhecimento de todos. Fazem vendas casadas, abrem cartões de crédito, com a desculpa mais deslavada e imoral que existe no mundo: Mas ele aceitou. Ao invés de existir um policiamento sobre estas práticas inescrupulosas, de gente mesquinha que só quer bater meta, nós somos obrigados a exercer policiamento sobre nossos familiares, abalando o que lhes resta em dignidade. Brasil de impunidades e olhos fechados.
Bem isso, Gisele! E ainda tem a máfia do consignado, que sabe da aposantadoria das pessoas até mesmo antes dela mesma! :-/ Beijos
Lamentável! São mesmo tempos bem violentos. Abração!
Tempos complicadíssimos! Mas há de! Há! Abração, Maria
Nossa, lembrei que aconteceu com minha mãe no mercado público. E ela se culpou muito. Sinto muito por vocês.
Sim, isso é o mais comum, Vanessa: a culpa… Beijos
Confesso que, pelo título, esperava um texto que falasse sobre religião (associei a vigário). Com um simples neologismo, vc já fisga o leitor, despertando-lhe a curiosidade. Fico triste pelo conteúdo e feliz pela forma. Contundente e muito bem escrito desabafo, amigo Rubem.
Obrigado, Ataíde!
Desabafar é bom, pena que não resolve… A solidariedeade dos leitores consola bastante.
Abraços e grato pelos elogios ao texto
Muito bom!!!
Valeu!
Infelizmente isto acontece. Uma tunda bem dada ao menos serve de consolo para o lesado.
Muito triste a realidade, Regina! Obrigado!