Hoje, 31 de outubro de 2022, acordei como se estivesse de ressaca. Estranho, pois nem bebi. Minto: houve uma latinha de cerveja acompanhando a pizza da noite passada – mas uma latinha de cerveja não conta. A ressaca é republicana. Passado este verdadeiro carnaval (com direito a enredos de mau gosto e muita pirotecnia), cá estamos de volta à vida como ela é.
Como de hábito, passei os últimos meses distante de posicionamentos partidários. Ainda assim, firme em meus propósitos democráticos e fiel aos conceitos arduamente elaborados pela razão. Em vão, totalmente sem sucesso, fracassando muito, muito mesmo, tentei convencer pessoas queridas a evitar os extremos maniqueístas de uma eleição polarizada. Agora, finalmente, chegou a minha vez.
Terminada a pancadaria, é chegado o momento dos moderados.
Explico: tão certo quanto o destino, apenas um dos candidatos se sagraria vencedor. Como o previsto, a vitória foi apertada e, por isso, não serve como consagração absoluta ou como repúdio completo. Logo, é chegada a hora de compor, dialogar, buscar convergências. Ou seja, todos os passistas que se dizem democratas precisarão abandonar o preto e o branco e buscar os tons de cinza, sob pena de perderem a razão.
Terminada a pancadaria, é chegado o momento dos moderados. Se no enrosco mais valia a ação dos impetuosos (ou dos inescrupulosos, quem nega existirem?), na pacificação o pessoal do deixa disso pára de apanhar enquanto tenta serenar os ânimos. Governo e oposição são destaques de um mesmo espetáculo e a guerra fratricida jamais será a solução. Vamos dar as mãos, por favor… O ressaquento zumbido que ainda me perturba tem nome: teorias conspiratórias. Que passe logo, sem agravamentos.
PS: nesta semana temos Oficina Santa Sede na 68ª Feira do Livro de Porto Alegre. Será na quinta e sexta-feira, 18h30, no Apolinário Bar – República, 552. Evento gratuito!
Boa crônica, pedir sensatez e boa vontade para dialogar é inteligente. O problema é que a nossa sociedade carece de inteligentes. Se tivéssemos essa inteligência não teríamos chegado nesse ponto. Política está mais irracional que religião e futebol
O pessoal quer ser de uma tribo, quer guerrear.
Todas essas fake news só se propagam porque as pessoas querem resolver tudo rápido e na porrada. Querem exterminar o outro lado. Se tornam instrumentos de manipulação de populistas vigaristas. Os dois lados são assim. Populistas precisam de gado para manipularem. Precisam confronto.
Então, em vez de criarmos uma agenda mínima de consenso e construirmos a partir dali, destruímos o que o opositor fez. Quem perde? A sociedade. Nesta eleição discutimos pauta de costumes e democracia. Esses assuntos estavam superados há 40 anos! Voltamos no tempo, perdemos tempo. E os problemas continuam aí… Fome, desemprego, saúde, educação, habilitação, infraestrutura, falta de confiança para atrair investimentos, cipoal tributário
É muita burrice. A não construção da terceira via, que era o consenso, é um atestado de burrice da nossa sociedade
Vai ser difícil. Mas a nossa parte, como cidadãos, é essa: tentar trazer um pouco de razão nesse mar de irracionalidade.
Obrigado, Antônio! Vamos trabalhar o bom senso e afastar fantasmas de (mais) retrocessos.
Sensato oportuno depoimento!
Obrigado, Silvio!
Boa Rubem. Amei a metáfora das cores. Sim concordo contigo momento dos moderados, ou de moderar.
Moderemos! Beijos, Magaly
“Nesta eleição discutimos pauta de costumes e democracia. Esses assuntos estavam superados há 40 anos!”, fala do Antonio Xavier. É bom encontrar alguém lúcido na estrada.
“Como de hábito, passei os últimos meses distante de posicionamentos partidários.” Isso não é cinza, amor! É a coluna do meio. Pior: é a linha invisível que divide as faixas da zebra. Desde o primeiro livro, dois mil textos publicados, dez chutes ao gol, um gol a favor, um contra.
É preciso querer se comprometer, ao oferecer a mão.
Carinho,
Auristela
Auri, quando você pinça a primeira frase do meu parágrafo e omite sua continuação é porque, deliberadamente, guarda apenas o que lhe interessa. Uma pena. Sobre o Antônio, sim, é muito lúcido – enfim convergimos.
Mãos ofertadas, sempre,
Rubem
As minhas à palmatória.