“Olha a heresia…”, já escuto meu censor interno alertando sobre o título. O problema é o tema: desejo falar sobre a onipresença. Não minha, nem de Jesus. Refiro-me a onipresença da música em minha vida. Este é um fenômeno tão forte que, quando vejo, tudo o que faço tem música no meio. Inclusive – refletindo aqui – é ela a verdadeira porta de entrada na crônica, ao contrário do que andei pensando sobre a redação publicitária (não se melindre, ó redator que existe em mim, você foi importante também).
Antes de aprender a ler, comecei a ouvir. Antes de aprender a escrever, comecei a percutir. Por muita sorte, nasci em um ambiente musical e eclético. Maior ventura ainda foi chegar ao mundo quando uma geração de talento absurdo contornava os limites da MPB, eles mesmos já crescidos sob a influência da “turma do rádio”. Miúdo, vivi a Era dos Festivais. Crescido, acompanhei a consolidação de artistas hoje octogenários (ou chegando nessa marca). Fui abençoado pelo destino.
Foram as letras de música a dizer sobre a vida, o amor, as amarguras do cotidiano, o ciúme, a alegria, a desigualdade social, a beleza da simplicidade, a força dos amigos, a importância da família, a grandiosidade da fé. Desde o samba, minha paixão primeira, passando por todos os estilos, construí quem hoje sou. Retirem a música e restarei vazio, oco, apagado. Assim como se apaga um pedaço de mim quando, por exemplo, cala-se a voz de Gal.
Por isso, de forma intuitiva, mesclei a música em minha produção literária na qualidade de autor e de organizador. Ela é o cimento que permite a construção das obras. Incentivar os cronistas da Santa Sede a resgatarem suas memórias musicais é sempre um momento de intensidade criativa, um dos pontos altos do curso, quando o registro ficará para sempre nas páginas das antologias. E aí chegamos a uma novidade…
A partir deste ano, na segunda orelha dos livros, o leitor poderá acessar uma playlist completa das músicas ali referidas. É o nosso primeiro livro com trilha sonora ofertada por um link de QR-Code (coisa de Master Safra, diria a Soraya). Também é a prova de que os cronistas sabem tudo de música e são igualmente influenciados por ela. Em breve e aos poucos, subirei playlists de todas as Safras, desde 2010, ao alcance de uma pesquisa. Todas deliciosas.
Ao escutá-la, duvido que não venha a vontade de ler o livro!