Caro Rubem,
Nas reuniões dançantes, ser par sempre foi um desafio.
Ora o desejo dava as mãos, ora o medo as soltava.
No instante em que a confiança prendia a cintura, silente, o medo afastava.
Toda vez que a promessa encostou a cabeça em seus ombros, crescia o medo.
Ele, o medo, sempre foi só seu. Ele era um terceiro no par. Invisível ao outro. Pressentido, suponho.
E você dançava, Rubem. A cada festa, em qualquer oportunidade, dançava. Você e o medo.
Quando foi mesmo que ele deixou de ser consigo? Nunca, talvez.
Porém, sem prenúncio, vez por outra ele deixou de conduzir.
E foi tão suave, tão discreto, que nem você ou o par puderam notá-lo.
Quase ao ponto de ser esquecido.
E você descobriu como é bom quando você e o medo se irmanam em uma só coreografia.
* Crônica epistolar para a oficina de Biodanza e Escrita Criativa promovida por Frater e Santa Sede dia 26 de novembro de 2022.
X – X – X
Explorar as intersecções entre as diversas manifestações humanas é um desafio enriquecedor com resultados surpreendentes. Uma carta para si na infância ou adolescência – esta foi a proposta do primeiro encontro da oficina “Escrita em Movimento”. Intercalando atividades de produção textual, leitura e biodanza, diversos gatilhos de memória transformaram a interação da turma em experiências inestimáveis, eternizadas em palavras. Muita gratidão ao convite da querida Myrthes Gonzalez, amiga desde o distante ano de 1976, uma das maiores autoridades mundiais em Biodanza com quarenta anos de experiência. Estar à altura do convite significou muito para mim.
Rubem, que experiência!!… e a delicadeza do teu texto, revelador das profundezas que a biodança te fez mergulhar. Adorei, pois me identifiquei maciçamente na tua carta. Linda!
Obrigado, Adriana! Foi, realmente, um mergulho de profundidade. Só o primeiro (espero). Beijos
Lindo texto Rubem, sempre cheio de expressões que nos traduzem com delicadeza!
Abraço
Muito gentil, Sandra! Obrigado