Essa faz tempo: eu estava no estúdio da Rádio Bandeirantes como convidado de um dos principais programas de debate e, ao meu lado, sentava-se um jovem vereador do Partido dos Trabalhadores. No extremo oposto da mesa havia outro vereador, muitos mandatos em sua biografia, do Partido Progressista. Naquele momento, o tema era corrupção e os ânimos só não se exaltavam pela natureza cordata de todos. Bons tempos de alguma temperança.
Quando chamaram os comerciais, começamos a conversar. Meu vizinho reclamou ao pé do ouvido: o Progressista faz parte do rol de partidos chafurdando na lama e, no entanto, naquele vereador nenhum pingo de barro lhe sujava a camisa. Quanto a si, estava sendo pessoalmente acusado de “malfeitos” ocorridos muito longe de sua jurisdição. Injusto, ele dizia. Dois pesos e duas medidas.
Sua reclamação era pertinente. Porém, disse-lhe que o acontecido era natural: num partido orgânico e que sempre se moveu em bloco, colhe-se vantagens e desvantagens. A vantagem é ser um grupo coeso, com visão programática e movimentos coordenados. Um corpo monolítico que obtém desta solidez muita força. A desvantagem é responder, sempre, pelo todo. Ou seja, enquanto se é parte do corpo maior não dá para tirar o corpo fora. Ou não deveria dar, é claro. É o preço.
Passaram-se muitos e muitos anos e outro grupo galgou status de unidade – os ditos Bolsonaristas. E, diante dos “malfeitos”, alguns reclamam que não fizeram nada, que são pacíficos e do bem (por equilíbrio, substituam o eufemismo aqui e/ou o lá no segundo parágrafo como desejarem, não me importo). Se estivessem comigo dentro do estúdio da Band, em off, diria a mesmíssima coisa: suportem a dor e delícia de compor um movimento programático e coordenado. Suas reclamações podem ser pertinentes, mas não estranhem quando cacos das vidraças dos palácios pararem em seus bolsos. É o preço.
E agora?
Agora, o que acontecerá a partir deste janeiro, para mim, segue como uma incógnita, principalmente se pensarmos a longo prazo. Ao olhar para a história brasileira, nossas redes de proteção sempre prometem responsabilizar um por todos e todos por um. Façamos justiça: até conseguem pegar algumas sardinhas. Os peixes grandes, no entanto…
Observação e constatação pertinente. Colateral na abordagem proposta, não há como afastar que o objeto que foi abarcado pelos dois grupos possuem enorme distância, no primeiro o custo pecuniário pode ser precificado, no segundo emergiu a barbárie, o raso, a covardia, o culto do desprezo ao outro e às instituições, características presentes de maneira latente no psique dos seus.
Concordo, Felipe – as comparações são do que une, mas há muitas diferenças.
Abraço, Rubem
Bem bom teu texto.
E agora?
Solta o play do Carnaval; “na batalha de confete, o amor dos foliões”.
É preciso reaprender a torcer, por mero prazer.
Ótima ideia, Auri.
Obrigado!