Houve um tempo em que a marca dos quarenta anos de idade carregava consigo um peso extraordinário. Outrora, mais cedo as pessoas estabilizavam-se em suas ocupações – muitas vezes em patamar de excelência –, formavam suas famílias e, ao abrir a quarta década, a denominada meia-idade vinha com um sentimento de dever cumprido. Seriam alguns anos de administração do tempo com vistas à aposentadoria. Voo em piloto automático e velocidade de cruzeiro – isso na melhor das hipóteses.
Com uma carga bem mais pesada, a outra (pior) forma advinha do desespero por ter queimado a metade dos anos de vida sem conquistar algo relevante. O famoso “cheguei aos quarenta e ainda não etc.”. E, no etc., várias coisas. A serenidade do primeiro grupo contrastava com a pressa do segundo. Como boa notícia, havia tempo suficiente para alcançar os objetivos, muita força e alguma saúde. Além da desculpa meio furada de que a vida começaria aos quarenta. (Nota-se aqui uma esperteza marqueteira já aparecendo.)
Mais recentemente, há um representativo número de guinadas de percurso na casa dos quarenta. Seja por ter alcançado uma estabilidade meio parecida com estagnação, seja por imaginar que os caminhos estiveram equivocados, é bastante comum conjugar o verbo “reinventar” de modo reflexivo. Muitos a correr atrás do novo destino como se voltassem aos vinte aninhos. A coragem para tal mudança repentina – às vezes radical – está muito ligada à saúde e à jovialidade garantidas pelos avanços da medicina. Também de uma nova noção de tempo no porvir.
Ao que tudo indica, os novos quarenta não se parecem mais (nem de perto) com os antigos quarenta. E eu preciso muito me agarrar nessa crença – com todas as forças! – para aceitar como natural a chegada de Sandy Lima à meia-idade como se tudo bem. E meu espanto não acontece por ela ser pequena, não: quando me lembro que Elis morreu aos 36, recordo dela como uma mulher madura e, salvo engano, poucos centímetros as distanciam em altura. Elas são, isso sim, frutos dos seus tempos. Ou seja, exemplos maravilhosos de muita lógica quando vamos nos referir a alguma coisa e dizemos “no meu tempo”. Os tempos, sim, mudam.
Sandy, felicidades e parapenz: você acabou de rasgar meu calendário referencial.
Muito Bom Mano👏🏼👏🏼👏🏼
Valeu, Serginho! Abração!
baita crônica!
Valeu, Tiago! Abração!