Às armas por Stanislaw!

“Esta guerra é um labirinto de espelhos em que a verdade

é protegida por um guarda-costas de mentiras”

Fragmento da abertura de O soldado que nunca existiu

Um espião espia, escuta, fareja e filtra. Também, é claro, dissimula. Por mais que sejam muito sedutoras as histórias onde este tipo de personagem se envolve em lutas explícitas, sua única garantia de êxito não é o brilho, mas a sombra. Por isso, indico verem o filme O soldado que nunca existiu, dirigido por John Madden. Nele, Ewen Montagu (Colin Firth) e seu grupo criam uma narrativa falsa de desembarque de tropas na Grécia para enfraquecer a resistência nazista no sul da Itália – verdadeiro intuito.

Sem risco de spoiler, adianto que criam um soldado que nunca existiu, William Martin, a partir de um cadáver. Ele estaria supostamente carregando documentos sigilosos (falsos) e teria morrido afogado na costa da Espanha – país neutro e lotado de espiões de ambos os lados da guerra. E, para dar um nível de detalhe suficiente, também criam Pam, uma noiva apaixonada que espera seu retorno. Aliás, excelente estratégia para sustentar a constante tensão afetiva que ronda o quarteto encarregado de dar credibilidade ao estratagema.

Para quem gosta de escrever, ilumino a cena de brainstorming na qual são discutidos os aspectos da vida falsa a serem investigados pelos nazistas e capazes de sustentar a farsa. Nela, fica evidente a relação entre presente, futuro e passado. Presente: um soldado da Marinha Real Britânica leva documentos ultra-secretos e morre afogado. Futuro: os aliados (supostamente) rumam para a Grécia. Passado: este homem tem nome, documentos, pais, histórico escolar, relações pessoais e… projetos – casar-se com Pam, a quem conheceu num mau momento, a guerra que os separou.

Agora, onde entra Stanislaw (Ponte Preta), que consta no título, nesta aparente crônica resenha? Simples: semana que vem, o Apolinário será nosso Gargoyle Club e a Master Class Santa Sede se reunirá para, em grupo, dar vida a cinco personagens em tributo ao cronista carioca. Por obra de um coletivo de criadores, nascerão Niúra, Fredinho, Heloísa, Ambrósio e Néctar. Suas missões nada secretas serão retratarem o cotidiano tal como já o fizeram Tia Zulmira, primo Altamirando e Rosamundo pelas mãos de Sérgio Porto.

No filme, há um enorme empenho em dar rostos aos personagens – todas as cenas que envolvem as fotos são importantes na trama. Para nós, este trabalho estará nas mãos do artista gráfico, escritor e chargista Gerson Kauer – cumprindo a função que coube ao genial Jaguar no passado. Tal detalhamento será prenúncio de nossa vitória (opa, spoiler indireto!) no plano de ofertar aos leitores um dos mais surpreendentes livros da consagrada série nascida em 2014 com o tributo ao grande companheiro de Porto – Antônio Maria.

Nossa batalha será compor um labirinto de espelhos cujas imagens revelem os meandros da rotina atual com picardia, humor e alguma dose de ironia, ainda que seja impossível carregar nas tintas como Stanislaw fez à sua época. Difícil? Sim. Mas haveremos de desembarcar com sucesso em nossa Sicília!

4 comentários em “Às armas por Stanislaw!”

  1. Isabela Damilano Vieira

    Muito bom. A farsa expõe as diversidades do obscuro das relações “humanas” quando o interesse é disiminar o ódio.

  2. O que mais gosto do Sergio Porto é ele ter citado São Bento do Sul/SC no FEBEAPÁ. Nos deu nossa linha de glória.

    O nome do nosso próprio soldado morto também nunca foi revelado e aí está um bom desafio para o amado Henrique Fendrich!

    A outra coisa que mais gosto do Sergio Porto é ele ser mais uma referência, lida e catalogada, de escritores que usaram pseudônimo em ao menos um momento da vida.

    Quanto ao filme, a partir do momento em que a mala é encontrada, fica meio ruinzinho. Até lá, é de uma diversão seríssima! Boa referência, mesmo.

    Sucesso!

    Auristela

    1. Auri, sabe que concordo contigo? O filme perde um pouco de fôlego e a trama quase se perde…
      Obrigado por seu desejo: não faltará esforço!
      Abraços, Rubem

gostou? comente!

Rolar para cima