Quem acompanha minimamente o futebol brasileiro sabe o que está acontecendo na nossa Seleção. Como nunca (como sempre?), a administração equivocada da CBF – incompetente, centralizadora, suspeita – contamina o processo a ponto de influenciar diretamente o resultado de campo. Como sempre (como nunca?), a torcida acredita que a mística da “amarelinha” será capaz de reverter os maus resultados. Para além de ser o futebol o esporte coletivo com a maior chance de um time pior ganhar de um melhor – e talvez resida aí seu charme –, acredito que um dos agravantes do processo esteja lá nos bancos escolares da turma: uma carência de boas aulas de História.
No século passado, quase todos os jogadores convocados para o selecionado canarinho jogavam no Brasil. Ainda assim, estavam diante do melhor em termos de preparação física e medicina do esporte, pois atuavam em grandes clubes. Em vinte anos isso mudou: os atletas agora atuam nos melhores times do mundo, com direito a vantagens outrora inimagináveis quando se fala em preparação física, técnica e mental. De uma forma ou outra, a parte esportiva estava e ainda está a serviço do talento. E eles devolvem aos clubes os resultados de polpudos investimentos – inclusive em seus estratosféricos salários. Para fins imediatistas, o suficiente.
A minha tese do momento é a de que professores de Educação Física continuam ajudando os meninos e meninas a alcançarem o sonho de jogar futebol no estrangeiro. Mas aos de História escapa a oportunidade de alertar para o fato de que dinheiro não compra o legado. Uma Copa do Mundo escreve nosso nome na perenidade, bem como o insucesso o faz. Ainda assim, há fracassos e fracassos – e o sexto lugar nas classificatórias sul-americanas permite conhecermos tais contornos. Se agora não mais precisam da Seleção para fecharem bons contratos, ainda precisam dela para aparecerem bem na fotografia do tempo.
Posso parecer injusto com os mestres, mas creio que eles fariam a diferença. Igualmente posso parecer injusto com os atletas – imaturos, muitas vezes. Lamento se é assim que soa. O drama é ver de modo claro que uma noção mais abrangente de perpetuidade modificaria o ânimo dentro de campo numa medida superior ao desastre da condução dos cartolas fora dele. Para tanto, lembro de Dunga: alguém com alcance intelectual suficiente para remodelar sua estampa nas copas e, com isso, entrar para a história do futebol. Ele deveria merecer um filme para ser assistido por todos os que sonham com o estrelato. De preferência escrito e dirigido por quem entenda a dimensão da História.