A&DPBP* – Unhas e dentes

A&DPBP* – Unhas e dentes

Rubem Penz

Uma das vantagens de ser um pai bem passado é justamente ter muito passado e, por isso, já ter passado por muitas experiências. Assim, é possível encarar com bastante naturalidade desafios os quais, para muitos, podem significar uma dificuldade extrema. Um exemplo? Cortar as unhas de bebês. Sim, esteja preparado para fazer isso muitas, muitas e muitas vezes…

Quem pensa nestes lindos e fofinhos seres como incapazes de macular a pétala da mais delicada flor é muito ingênuo ou inexperiente. Eles chegam ao mundo com vinte pequenas lâminas que nunca param de crescer. Alongam-se até enquanto dormem – ou principalmente neste momento. Aquelas que estão nos pés têm menos chance de nos ferir. As das mãos, por sua vez, arranham até quase abrir feridas, inclusive – principalmente! – neles mesmos. Portanto, se deseja salvar a pele da família, invista nessa aptidão.

Há quem prefira as tesourinhas para a tarefa. Eu sou adepto do cortador de unhas – não o comum, o mini, especial para a tarefa. Com ele dá para cortar bem rente e levar a rotina para a periodicidade semanal (escolho os sábados pela manhã), ainda que os últimos dias peçam cuidados. E quanto mais forte os nenês vão ficando, mais apertam nosso rosto, ombro, pescoço e mãos. Mamães costumam agradecer aos papais que não se mixam.

Bom, o problema é o natural declínio da visão de quem já viu de um tudo neste mundo. A infalível dica é portar óculos de leitura e escolher um ambiente bem iluminado. Também não poupar energia para segurar os dedos da mão e impedir o frenético movimento dos pés. Outro conselho é demonstrar confiança: os bebês notam nosso medo com a mesma sensibilidade dos animais selvagens. É quando começam a chorar e transformam uma tarefa de assepcia em sessão de tortura (física para eles e psicológica para nós).

Na minha primeira vez com a Agatha (milionésima alguma coisa se contar Ivan e Clara), dei uma picadinha no polegar esquerdo – o último dedo da empreitada. Ela chorou, claro. Mamãe ficou pra morrer e eu garanti que todos sobrevivem a pequenos infortúnios como esse. Fui bem mais cauteloso dali em diante: não dá para confiar apenas na memória muscular, é preciso levar em consideração meu envelhecimento.

Opa! Agora que me dei conta: o título é unhas e dentes… Como eles (os dentes) da Agatha não chegaram – ainda que a famosa coceira na gengiva se faça constante –, esperem um pouco para eu detalhar o estrago que uma mordida de bebezinho é capaz de gerar, entre outras aventuras que envolvem a primeira dentição. Por enquanto, a gatinha (Agathinha?) aqui de casa só arranha. E como arranha!

*Aventuras & Desventuras de um pai bem passado

2 comentários em “A&DPBP* – Unhas e dentes”

  1. Giancarlo Carvalho

    Excelente, Rubem. Uma aventura doce e perigosíssima. Chorei com a picadinha, pela Agatha… =|

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