Linhas aéreas, linhas de transmissão

Talvez fosse mais luminoso (ou mais caça-cliques) colocar Equatorial no título, uma vez que vou falar da mais nova saudade que nos acomete. Mas resolvi ampliar o escopo e começar pela Varig. Nossa, que saudade da Varig! Suas lojas no exterior eram praticamente  embaixadas brasileiras informais, seus talheres de inox tinham mais brilho, seus comandantes mais charme, suas aeromoças mais zelo e suas oficinas mais confiança. Porém, questões administrativas (combinadas com as políticas) a fizeram chegar num momento “ou”: investindo dinheiro – com linhas de crédito favoráveis (coisa jamais vista em terra brasilis?) – ela permaneceria viva. Ou não. Há quem defenda até hoje que ela teria direito moral ao aporte e a falta de socorro foi caso pensado. Mas o “ou não”, prevaleceu. Nunca mais voei igual.

E a CEEE? Para muitos, é a saudade da moda. De todos, porém, poucos desejam chegar ao momento “ou” de sua história. Colocam a escuridão na qual estamos na conta da onda de privatizações de uma direita capitalista monstruosa que jamais – jamais! – deveria estar à frente de um serviço essencial para, com ele, obter lucro. Portanto, o Estado gaúcho vendeu – doou tipo Varig? – uma empresa monopolista e mega lucrativa. Tá, quem sabe, superavitária… Talvez equilibrada? Remediável? Há quem afiance estarem Varig e CEEE riscando linhas azuis em seus balanços antes de deixarem de existir? No momento “ou”, a privada e a pública se diferenciaram em tudo, menos no passado de excelência e nos desafios administrativos e políticos.

Aliás, tenho uma historinha sobre a CEEE que retorna aos anos 1970. A Praia do Barco nunca se distanciou mais do que cinco quilômetros de Araçá, gêmea xifópaga da poderosa praia de Capão da Canoa. Mas não tínhamos luz elétrica nem força política. Proposta à época: paguem a ligação até a Praia do Barco e ofereceremos o serviço. Vaquinha feita, fiat lux. Quantas “praias do barco” existiram na história da CEEE eu jamais saberei, mas duvido ser tal episódio um só piscar de lâmpada. Mas há  que se ter cuidado em citar isso: até os postes de hoje são de direita e de esquerda…

Estranho: as duas maiores escaladas estatizantes brasileiras não são de esquerda. Até onde aprendi lendo Rubem Braga, os partidos comunistas brasileiros eram oposição ao governo Vargas – e Vargas era assim-assim com Mussolini e outros que não devemos nominar. Na onda seguinte, à época do “milagre brasileiro”, a esquerda só não era oposição porque estava silenciada à força. Ela só chegou ao poder com FHC, ainda que o Maciel sentasse ao lado, e começou a… privatizar. Depois, nos anos Lula, parece que correu bastante dinheiro do BNDES (público) para mãos ligadas. Mas estou indo muito além das minhas modestas luzes, devo voltar ao “ou” da CEEE.

Bom, ou a CEEE era vendida, ou teria que acertar suas contas e, importante, precisaria muito dinheiro para investir – como está óbvio, a infraestrutura atual demanda melhorias. O Estado gaúcho não tinha dinheiro nem crédito. Pior: faltava a certeza de que o modelo de administração sofreria alterações suficientes para que esparadrapos dessem conta da fratura. Foi vendida e a compradora deixa a desejar. É a hora de as agências reguladoras cumprirem suas funções – delas ninguém cobra nada? No fim, Gol, Latam e Azul só fazem aumentar a saudade que tenho da Varig. E a Equatorial faz todos esquecerem dos problemas da CEEE.

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