Estamos bem

Bem tristes – cada gaúcho, indistintamente entre os mais e os menos afetados. Cada brasileiro solidário. Cada homem e cada mulher que tem coração.

Bem esgotados – nossos voluntários, médicos, veterinários, enfermeiros, bombeiros, cozinheiros, policiais, soldados, agentes públicos e privados. Inúmeros e nem sempre suficientes.

Bem perdidos – cães e gatos, crianças, idosos, mães e pais de família parecem estar sem rumo certo. E a certeza de que as consequências estão só o começo nos assombra.

Bem desesperados – tantas mortes! E tantos foram os que perderam muito, enquanto muitos, muitos mesmo, perderam tudo.

Bem incrédulos – aqueles que ainda mal haviam se recuperado de eventos climáticos extremos acontecidos recentemente e, outra vez, testemunharam a fúria das águas.

Bem preocupados – quem acompanha a criminalidade crescente, fruto de uma mistura compreensível e incompreensível de desespero e sórdido senso de oportunidade.

Bem aturdidos – com histórias verídicas golpes. Pior: de estupros, violência, tráfico e desordem em abrigos de onde as pessoas nem tem como sair.

Em dúvida, sim, bem desconfiados – sobre as bases em que nossas cidades irão se reconstruir. Teremos aprendido as lições? Teremos humildade para reconhecer as falhas? Teremos decência e qualidade para gerir investimentos? Ou a sujeira (a lama) será posta debaixo do tapete?

Bem desunidos – pasmem, nem a mais dramática catástrofe climática experimentada pelo país foi capaz de apaziguar (ainda que momentaneamente) a polarização política. Ao contrário: produz digressões eleitorais e acusações mútuas. Brota ódio, baratas e ratos do esgoto.

Bem cismados – os recursos chegarão efetivamente? Estarão nos locais e disponíveis para as pessoas que realmente precisam de ajuda? Queremos crer, mas nosso histórico deixa dúvidas.

Ainda assim…

Bem-amados pelo país afora, bem dispostos a arregaçar as mangas e trabalhar, bem engajados no esforço conjunto, bem esperançosos em dias melhores e bem providos de irrestrita fé.

14 comentários em “Estamos bem”

  1. Rubem e povo do RS, já trabalhei em cenários de grandes desastres, mas nunca estive nem perto da situação de vítima deles, ainda mais em uma calamidade dessa magnitude. O desafio já está a exigir o máximo e o melhor de todos. À distância, sofro com o sofrimento de tantas e tantos, e rezo para que logo tudo seja superado. Até lá, muita força para todos aí. Saibam que não estão sós, nem ficarão. Ao final, o melhor de nossas humanidades fará a diferença é há se sobrepor a todos os males.

    1. Antônio, suas palavras salvam o dia de quem é solidário – ajudam a fortalecer nossas crenças. Muito, muito obrigado! Abraços

  2. Roberto E. Reis

    Maninho!! Belas palavras que expressam a mais profunda verdade deste triste episódio. Toda a tristeza, esgotamento, perdas, desespero, incredulidade, produpação, aturdimento, duvidas, desunião e cismas só são toleráveis por conta da tua última frase! Parabéns pelo texto certeiro!

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