Ajuste o cursor de minha vida para dez anos atrás. No hoje deste ontem, minha coluna no Metro Jornal continha a crônica “O que eu sei e o que eu não sei mais”, título que mudou minha vida. Vanessa leu – obrigado, Santo Antônio! – e nossos caminhos se encontraram. Abre-se agora, portanto, nosso calendário de efemérides. Um a um, nossos primeiros tudo a completar uma década de amor.
Para quem não sabe, o texto festejava o fato de, pela primeira vez na história, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul ter inserido um álbum musical em sua lista de leituras obrigatórias para o vestibular. O escolhido foi Tropicália, ou Panis et Circenses, de 1968, 46 anos depois de ser lançado. Com justiça, ainda que tardia, a canção enfim estava pareada com os demais gêneros literários. Eu fazia parte do grupo que encenou a peça-show-aula A Tropicália está chegando. Dois fragmentos daquele texto:
“Poucos trabalhos exigem mais talento do que letrar uma melodia. Afinal, é o único suporte (local onde repousam as palavras) que já vem com significados embutidos, os quais precisam ser contemplados. O papel aceita tudo, diz o ditado. A música, não.” (…) “Um país com um dos mais ricos cancioneiros populares jamais deveria deixar a Academia esquecer deste patrimônio cultural. Quando uma universidade de porte oferece aos calouros a obrigatoriedade de estudar fonogramas, faz com que milhares de jovens se debrucem sobre o significado de arranjos, composições e letras…”.
Agora, ajuste o cursor de minha vida para vinte anos atrás. No hoje deste anteontem, projetávamos, eu e Antonio Xavier, um daqueles chamados “álbuns de compositor”, ou seja, disco no qual diversos intérpretes cantam músicas dos mesmos autores reunidas. Estávamos embalados pela boa receptividade do álbum instrumental Passatempo (2000), do Grupo Versão Brasileira. Os caminhos deste trabalho, porém, foram mais tortuosos do que o programado. Depois de uma verdadeira arqueologia sonora, desde o ano passado este projeto retornou à vida – obrigado, Antonio! – e materializou-se Reverso.
Brevíssimo espero que o leitor possa escutar nossa singela contribuição ao tal cancioneiro popular (ainda que “popular” seja um termo que Vanessa insista em não me cair bem). Voltarei ao tema para contar curiosidades e informar data e local do lançamento. Findo com um fragmento da música que batiza o CD:
“Minh’água, minh’alma / Ou miragem, ou me salva / Saliva que afoga / Salina pele / Afaga, esfrega / Atiça a febre / Acalma…”
Crônica é história ou crônica e história? Você decide. Adorei!
Oi, Ana! Muito obrigado! Na dúvida, as músicas estão sempre em nossas histórias, Abraço!
Viajei por aí, para o passado, de tropical encanto, para o futuro, de poesia em canção! Sucesso ao Reverso!
Obrigado, Anabela! Lá na Tropicália está uma geração oitentona! Talvez a mais talentosa do Brasil. Abração!