Quando um candidato à prefeitura de São Paulo acerta o outro com uma cadeirada digna de filmes de velho oeste (ainda que em filmes as cadeiras sejam cenográficas e feitas para se partirem sem causar contusões) e o tema ganha aplausos nas redes, há quatro questões a serem levadas em conta:
- Há quem tenha gostado – o mesmo tipo de pessoa que esteve ao lado do valentão quando ele batia no boboca da turma durante a infância ou adolescência e, hoje, se esforça em esquecer o quanto era partícipe em casos de bullying ao justificar a violência (ele pedia…);
- Há quem não tenha gostado – e reprovou apenas porque a cadeirada deveria ser dada em outro candidato, e não naquele, pois apoia a vítima e, lá no fundo, também apoia o uso de violência (outros mereciam);
- Há quem compreenda que os dois anteriores se irmanam na aceitação dos valores da sociedade em caráter relativo. Tipo ser contra a violência, mas alguns merecem apanhar (esquecendo de que ser seletivo é aceitar a seletividade do outro sem poder reclamar);
- Há, por fim, quem denuncie a violência como princípio e não tema o julgamento dos que imaginam ser isso um libelo em defesa de A, B ou C. Pessoas que olham os fatos: temos um agressor e uma vítima, e a culpa jamais pode ser da vítima.
Antes de ganhar seu desprezo por ser o analista chato que corta o barato típico das salas de aula da quinta série, desejo olhar para a deplorável cena com uma quinta visão, absolutamente hipotética e igualmente inoportuna: e se tudo fosse jogo de cena? Se, lá no fundo, agressor e agredido estão propondo um espetáculo capaz de tornar vítima alguém vocacionado ao ataque? Vá saber, vá saber… Só pensei alto. A tal cadeira pode acomodar uma centopeia de versões, leituras, conjecturas ou delírios.
Lembrando Millôr, livre pensar é só pensar. E, na mesma medida em que sou contra a violência por princípio, por princípio sou a favor do pensamento e sua expressão permanecerem livres. Livres mesmo, e não só quando, ou porque, ganhará aplausos.
Pareceu-me uma luta de Telecatch, na antiga tevê Gaúcha. El Duende contra Fantomas. E a plateia delirava, embora ciente de que era tudo ensaiado.
Pois é, Mariângela… Dá para supor isso sem parecer exagero.
Beijos!
Ah, esse tipo de política, e de análise, é muito legal mesmo. Mas…
“- Tenho uma lição de casa para você: vá para casa e se masturbe. Divirta-se!”
É fala do filme Cisne Negro, de 2011, a partir do minuto 0:37.
Tem muitas falas professorais boas que podem ser aproveitadas nesse filme.
Selecionei essas também:
” – Isso fui eu seduzindo você. O que eu preciso é do contrário.”
” – A única pessoa no seu caminho é você mesma. É hora de se livrar dela. Solte-se.”
E o final, que espetáculo!
Relaxa.
😀
🙂
Os contendores deveriam escolher os padrinhos para o duelo. Garantiriam que os dois possuíssem armas idênticas e lavassem a honra com sangue, (e preferencialmente dos dois duelistas). Triste tempo em que vivemos: nem espadas como antes nem argumentos como deveria ser agora. Cadeira…ora, cadeira. Como escreveu Mariangela acima, para completar o Telecatch faltou o juiz Nilo Riso (que também fazia parte do espetáculo).
Nossa, João Luiz! Lembrar do juiz do espetáculo demonstra uma memória espetacular!
Tristes tempos, tristes tempos…
Obrigado, abraços
“por princípio sou a favor do pensamento e sua expressão permanecerem livres. Livres mesmo, e não só quando, ou porque, ganhará aplausos”.
É isto aí amigo Rubem, valor inegociável!
Muito obrigado, Miguel! Vamos juntos! Abração