Talento ou esforço?

“O talento diferencia os esforçados e o esforço os talentosos”

De Aforistas graças a Deus / RP

Os falsos dilemas são um tanto desnecessários. Eles aparecem muito mais para atrapalhar a evolução das pessoas do que para compor alguma serventia. Um clássico é a dicotomia entre esforço ou talento. Ora, o “ou” jamais deveria compor a proposta de combinação entre os dois, e sim o “e”. Aqui pretendo defender tal tese.

Quantas e quantas vezes ouvimos comentários sobre o desperdício de talento? Acontece quando alguém com notória capacidade acima da média não se destaca ou produz resultados, mantendo-se em estado de mediocridade. A facilidade é tamanha que o interesse se atenua e uma dose de (oh, dor, devo usar essa palavra?) preguiça dita o ritmo. Permanece aquém do potencial.

Por outro lado, conhecemos pessoas capazes de construir uma usina nuclear para, ao cabo, acender uma só lâmpada. Se recusam a ouvir conselhos os quais, muitas vezes, dirão somente que os esforços serão muito mais proveitosos quando observando o pendor individual. Todos nós nascemos com talentos e, ao reconhecê-los, o progresso pessoal é muito mais garantido.

Entre os dois extremos estamos todos nós, os chamados de “normais”. Indivíduos dotados de talento em alguma medida e submetidos à lógica do esforço pessoal para explorar a capacidade e, quem sabe, torná-la ainda maior. Algo como a frase clássica de Pablo Picasso (incontestável talentoso) em que dizia esperar a chegada da inspiração quando estivesse trabalhando. Em tal lógica, será a adição dos fatores a fazer diferença.

É quando uma patrulha intuída aparece para falar de exclusão social, uma chaga que ceifa talentos e desconhece esforços. Bom, este fator é externo à dicotomia adotada na crônica e compõe outra construção combinada com as iguais oportunidades. Em certa medida, a nova dicotomia até guarda semelhanças – ou seja, é uma soma, não uma subtração. E, quando combinamos os quatro fatores, pode-se concluir que meritocracia tanto está longe de explicar tudo, quanto distante de explicar nada. E aí já é outra tese.

 

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