Quando começamos a morrer? Muitos podem ser os parâmetros a responderem essa questão. Um interessante é “quando perdemos a curiosidade”. Cheguei a ele ao dar-me conta de que, no final das contas, quase não dou conta de contar à Agatha o que são as coisas. Há um dedo indicador mirando cada detalhe do que nos rodeia e, com ele, ao menos por enquanto, um “hã?” para pedir explicações.
Carro, passarinho, árvore, livro, máquina de lavar roupa, ônibus, gato, flor, panela…
Repare na intensidade do olhar infantil. Veja como veem as coisas, como desejam apreender e aprender cada vez mais. Tal vivacidade pode ser perdida com o correr dos anos, das décadas. Seguramente, ter nossa criança interior perto da epiderme não é garantia de vida longa (nada garante vida longa), mas é conquista de vida plena. Os dias dos curiosos e das curiosas reservam condimentos para além da insossa rotina.
Avião, au-au, janela, computador, fogão, moto, cavalo, cenoura, cadeira…
Para quem está com ano e meio, tudo é novidade. Além do mais, aprenderá pela repetição: não cabe a preguiça em indicar cada objeto, bicho ou pessoa duas, três ou 99 vezes. Depois, entorno dominado, chega o momento de alargar as fronteiras. O mar, as montanhas, o céu? Sim, mas pode ser o aquário, a cobertura do edifício e as nuvens que vemos ao olhar para cima. Erra quem imagina ser igual a busca de aventuras de adultos e de crianças: para elas, uma cidade nova é uma cidade nova, seja Feliz, seja Amsterdã.
Bicicleta, borboleta, jarra, sapato, quero-quero, Papai Noel, chimarrão, sapo…
Vida e curiosidade deveriam andar sempre de mãos dadas, como de mãos dadas andam as crianças pequenas conosco. Pois é: um pouco de prudência faz bem e alonga a vida. Se deixamos, os infantes se movem para o novo com tanto ímpeto que colocam a própria existência em risco. É sede, é fome, é agora. Quantos de nós lamentam os dias mornos que se sucedem enquanto a ampulheta faz correr os grãos? É preciso aprender com os pequenos a sabedoria de viver.
Mamãe, papai, vovó, vovô, titio, titia, primo, prima, mano, mana, dindo, dinda…
Diz o ditado que a curiosidade matou o gato. Prefiro meu aforismo: à curiosidade, fresta é horizonte. Taí outro parâmetro: começamos a morrer quando já não ambicionamos novos horizontes.
*Composto durante o módulo Mosaico 2024 da Oficina Santa Sede
** Aventuras & Desventuras de um Pai Bem Passado
Muito muito bom
Muito obrigado, Vivi!
Que lindo! ” À curiosidade,fresta
é horizonte! ” Por muitas reflexões como essa ,pela busca incessante de novos horizontes!
Márcia, muito obrigado! Que nunca nos faltem novos horizontes! Abraços
“Vida e curiosidade deveriam andar sempre de mãos dadas”, beijo.