Sabe você o que é o amor? Não sabe, eu sei.
Carlos Lyra e Vinicius de Moraes
Aos poucos, sem pressa, Agatha vai acrescentando palavras ao vocabulário. Entre outras vantagens, há na natureza de ser um pai bem passado o decréscimo de qualquer pressão por desempenho. Ergueu-se em dois apoios quando aconteceu, sentou-se quando quis, engatinhou quando foi preciso, caminhou ao seu tempo e, para falar, cumpre a agenda que deseja. Há estímulos de sobra neste sentido e, cedo ou tarde, estará matraqueando ao meu lado. Sem pressão, sem pressa. Depressinha isso se dará, eu sei.
É divertido ver a ordem em que as coisas acontecem neste quesito. Para minha estupefação, falou “papai” antes de “mamãe”. Credito o fato a três motivos: 1) Vanessa fala com ela mais do que eu e vive se referindo ao papai, 2) “papai” é parecido com papá e, como sou o cozinheiro na casa e ela é taurina, agiu por interesse e 3) o fonema “mã”, de mamãe, é mais complexo do que o “pá”, de papai. Teoria improvisada: ganharíamos este privilégio sempre se não fossem tão ausentes os papais.
“Vovó” também já sai com desenvoltura e, correndo o risco de ofendê-las, surgiu em empate técnico com “au-au”. Aliás, ela gosta mesmo de uma e de duas sílabas, simplificando tudo para tal arranjo. Vai batizando os bichos de brinquedo e as bonecas nesta toada. Recentemente aprendeu a falar “gato”, e eles ganharam uma entonação de separação de sílabas. Diz “ga-tu”, assim, com pausa. Uma graça!
Outra característica é ter palavras associadas a movimentos. Nossos nomes (papai, mamãe e Tatá – como se refere a si) acontecem batendo no nosso e no seu peito. “Ó”, o sinal de alerta, nasce com o indicador apontado para cima e é muitas vezes dito quando os au-aus fazem au-au na vizinhança. “Dá”, apontando para o objeto do desejo, “não” negando com a cabeça ou o dedinho e, melhor de todos, com uma dancinha (motivo de crônica própria).
Neste final de semana ela aprendeu a falar “amor”. E seu amor está sempre acrescido de um afago em nosso rosto e um “o” longo, do tamanho da carícia. Deste modo nos ensina que, antes de nominar as coisas, o mais importante é saber das coisas. Seu léxico se enriquecerá paulatinamente, mas, antes de falar, ela já sabe tudo de tudo de tudo mesmo. Entende tudo, pesca tudo, domina tudo. Mesmo sem ser capaz de formular frases complexas, com um simples gesto, se perguntada “sabe você o que é o amor?”, demonstrará um belíssimo “eu sei”.
*A&DPBP significa Aventuras & Desventuras de um Pai Bem Passado
Que lindeza de amor. Que formosura é Agatha. Que linda declaração de amor.
Ah, Soraya… Comentávamos antes de dormir, ontem: tomara que ela não abuse, pois Agatha fará comigo o que quiser! Obrigado, beijos
Muito bom! Que ela cresça e se desenvolva de forma natural e tranquila, como é a mãe e o pai!
Tudo no seu tempo, no tempo certo, Altino. Mesmo passado, não tenho pressa – planejo viver bastante! 😉
Agatha dando aula de como simplificar o infinito com o mínimo de caracteres.
Essa guria tem eloquência nos gestos 🩷
Michele, aprendemos sem parar!
Muito obrigado!
Beijão
Que delicadeza de família!
Feliz por vocês ❤️
O amor se constrói assim.
Muito obrigado, Anne! É a mesma estrutura de construir amizades.
Beijos
Caro mestre, obrigada por nos presentear com tão linda crônica, derivada de tão lindo amoooooooor. Saber do amor, conhecê-lo, é lição que se aprende assim, no miúdo da vida, enquanto se vive!
Obrigadoooo, querida Anabela.
Beijão
Que amor Rubem!
Muito amor, Miguel. Abraço!