Jogo de espelhos – A&DPBP*

Como segura uma fatia de pão, o modo de curvar a cabeça ao sorrir, o gosto pelo abraço, as primeiras palavras, o lugar das coisas, a hora das ações…

Do que é feita nossa herança? A resposta biológica leva com precisão e justiça para o sangue, para a carga genética. Somos a continuação de nossos pais, ainda que a nova combinação nascida da soma faça toda a diferença. Serão traços inapagáveis, pois componentes.

Como descobre as novidades e lida com elas, como desenvolve preferências e hábitos, onde deposita valores positivos e negativos…

A genética explicaria tudo, então? Apenas uma parte, creio. Há outra fatia a ser considerada – a criação. Um pequeno humano compreenderá o mundo por suas experiências familiares, será moldado conforme o que lhe é proporcionado nas rotinas mais corriqueiras. Gestos e atitudes que passam despercebidos na maior parte do tempo são mais determinantes do que se imagina.

Até onde pode ir e quando parar, aquilo que merecerá palmas e o que gera repreensão, como se relacionar com as outras pessoas…

“Quem sai aos seus não degenera” é um ditado antigo, português. Afiança o valor da tradição, a importância dos antepassados, avanços combinados com a continuidade. Engana-se quem imagina estar nas palestras formais o norte a ser vislumbrado pelos filhos. O maior aprendizado está diluído em cada minuto da vida, no modo como reconhecem os pais.

Quem faz o quê e quando, o que agrada e o que incomoda, qual o seu lugar no mundo…

A mesma mágica que nos faz saber que aquele chamado no meio da multidão é de um filho nosso, também aparece no reconhecimento à distância do rosto da mãe e a cascata de emoções que acarreta. A maior surpresa é a constatação de que, zerada a carga genética, como no caso de famílias construídas com base na adoção, o amor e a convivência se encarregam de completar todas as demandas.

Tenhamos muita atenção: a vida se reflete nos detalhes.

*Aventuras & Desventuras de um Pai Bem Passado

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