Ainda estou aqui – não é o tempo todo ou mesmo com a frequência ideal, mas o cinema brasileiro produz filmes dignos de concorrer e ganhar o Oscar. Películas agraciadas em outros concursos nunca nos faltaram. “Central do Brasil” foi muito injustiçado, ainda que todos os certames venham com a variável concorrência, igualmente merecedora. O que mudou em “Ainda estamos aqui”? O competentíssimo trabalho de tornar a história notícia, a entrega e o carisma de Fernanda Torres para divulgar o filme e a torcida emocionada de todos. Parapenz!
Porto Triste – os jornais da TV mostram o Carnaval ocupando as ruas de diversas capitais e outras cidades. Falam da alegria tomando vias e praças, diversidade rimando com liberdade e festança com segurança. Em cada uma das manifestações populares haverá contratempos: restos de folia, banheiros químicos insuficientes, som alto madrugada adentro, assaltos etc. Tão brasileiro é esse feriado nas noites da realeza popular! Lamentavelmente, nossa administração tranca a capital gaúcha e esconde a chave do Rei Momo (ao invés de entregá-la com prazer).
Filha com dois relógios – só quem teve pequenos frequentando creche sabe: em algum momento, a qualquer momento ou a todo momento, crianças aparecem com arredondadas marcas de dentes. É preciso, sim, cobrar empenho das profes para interferir a tempo de evitá-las, orientar os pais dos mordedores sobre o mau hábito, proteger a todos. Também é necessário termos calma: é humano, é uma fase. Na semana, o incrível aconteceu depois. Vanessa pediu “Rubem, passa Hirudoid no braço da Agatha”. Abri o armário. Quando respondi que não estava encontrando, Vanessa disse “Agatha, pega o Hirudoid que teu pai não está achando”. E ela, ano e dez meses, pegou.
Verde cor e a sétima arte – quarenta anos atrás meu Carnaval também coincidiu com o cinema. Aquele que, sem que eu soubesse, seria minha despedida da folia, tinha a sétima arte como enredo do nosso bloco. Com a cozinha fantasiada de Bando da Lua, os destaques femininos de Carmen Miranda e os masculinos de Charlie Chaplin, levamos para a Praia do Barco o Troféu Isso é Carnaval 1985 em Capão da Canoa. Nosso êxito, guardadas as proporções, se espelha nos (exagerados?) cinco Oscars de Anora, uma produção independente de baixo orçamento. Os estranhos critérios da Academia em 2025 mandam, entre outros, um recado que eu conhecia já aos vinte anos: trabalhe com entrega e tudo pode acontecer!
Bom dia, mestre! Faço parte desses quatro bloquinhos de Carnaval! No primeiro, sou aquela que gruda o olho na tela, apaixonada pela história e pelo jeito de contar a história. No segundo, atravesso a avenida com melancolia, a chave da alegria escapou das mãos de Momo e repousa em mãos embrutecidas. No terceiro, desfilo em três alas: das professoras, das mães e das avós. Haja fôlego e rebolado para lidar com a dança da vida. No quarto bloco sou a ausente. Criança e adolescente, fui privada dessas alegrias (a chave, onde estava?). Adulta, já entendia que não era o meu lugar. Mas posso fechar os olhos e viajar a 1985, e sambar com o Bando da Lua. Vai que alguém me empresta um turbante de lamê dourado? Obrigada por mais esse texto cheio de graça, que abre alas para a alegria.
Que lindo comentário, Anabela! Muito obrigado!
Adorei as crônicas, Rubem e me surpreendi com a pequena Ágata, imagino as risadas depois!
Abraço
Sandra, não sobrou um só butiá nos meus bolsos!
Obrigado pela leitura, beijos