Pelas barbas do Papai Noel! (A&DPBP)

Quando o tema é Dia dos Pais, a publicidade costuma mirar com frequência em dois grupos: os pais de bebês e crianças pequenas, e os pais de jovens adultos. Sem muito esforço, é fácil pensar em termos de potencial de negócios: o primeiro grupo é escolhido para ser agraciado por uma fofura via presente comprado pela mamãe ainda bastante orgulhosa de sua condição. No segundo, filhos com capacidade de investimento e, eventualmente, gratidão em bem-vinda dose.

A vida inteira vi homens de cabelos e de barbas grisalhas como modelos para representarem papais de jovens adultos. É um signo bem mais instagramável do que a calvície, né? (Não que uma calva seja desabonadora, claro.) Os fios brancos demonstram experiência, são a marca de anos de vida suficiente para compor a personagem, trazem até certo charme maduro. Num paralelo à família de comercial de margarina, lá estão homens esbeltos, dentaduras perfeitas, algumas marcas de expressão e a neve começando a tingir os pelos.

Até bem pouco tempo, os tipos escolhidos para representarem papais de bebês e crianças pequenas eram o oposto: rapazes que ainda ontem poderiam estar, eles mesmos, com um copo de Nescau nas mãos. No máximo, garotões de uns trinta anos. Eis que sou surpreendido por uma novidade (velhidade?): fios brancos compondo o grupo de papais de pimpolhos. Lógico! Se a classe média e média alta está acompanhando mulheres sem pressa para terem filhos, é natural que seus parceiros não fervam no primeiro leite. Daí a escolha por modelos, ao menos, quarentões. Quando não ainda mais passados.

O que eu ganho com isto? A chance de não ser visto tão automaticamente como vô da Agatha nos corredores do supermercado Zaffari, por exemplo. Também estar menos deslocado nas festinhas de Dia dos Pais na creche, ainda que eu seja, por óbvio, o mais velho na sala. É só cuidar para não gemer ao levantar-me do chão depois de estar em rodinha e partir para o abraço de Dia dos Pais. Pode parecer ridículo, superficial, bobo, mas não é. Pertencimento já é um ótimo presente no segundo domingo de agosto.

A&DPBP são as Aventuras & Desventuras de um Pai Bem Passado

6 comentários em “Pelas barbas do Papai Noel! (A&DPBP)”

  1. Se você não é classe média e média alta, esse texto não é para você. Use melhor seu tempo de leitora. Tente se identificar com outro público alvo. O das mulheres mais pobres ou menos ricas que tiveram pressa em ter filhos. O das nascidas no século passado. Ou o grupo das elegantes, que não pretendem, ou não tiveram oportunidade de procriar, como a Cintia Chagas. O das mãe de filhos “sem pai para comemorar”, um dos mais incríveis! Agora, se você prefere pensar melhor sobre esse tipo de “enquadramento”, acredita que variabilidade é que nos trouxe até aqui e que ainda vai sustentar nossa natureza humana por mais uns cinquenta séculos, considere o isolamento social. Afirme que você: se pertence. Se pertencer é melhor que pertencer. É uma conquista que infelizmente não está ao alcance de todos.

    1. Jordana, me referi mais aos anúncios impressos (encartes como o que ilutra a crônica). Mas na TV aberta também começam a mostrar pais maduros.
      Beijos!

  2. Tente com os filhos, a ‘técnica da provocação’. Eu sou um ronin. Se o tenho por regular referência, bom amigo, nem por isso como mestre, a quem devo o respeito de me submeter aos caprichos. Administro meu tempo, meu cisco, aceno e sigo. Autodidata, faço os exercícios que tenho que fazer, mil vezes, eu os repito. Não brigo com você, Rubem, a não ser que o veja em apuros, precisando de alguém com quem contracenar, aí, atuo.

gostou? comente!

Rolar para cima