Eu odeio você e você deve gostar de mim;
Eu desprezo você e você deve me valorizar;
Eu tenho nojo de você e você deve me engolir;
Eu não tenho respeito por você e você me deve deferência;
Eu quero que você suma e você deve aceitar minha presença;
Eu acho que você nada vale e você deve aceitar todo o valor que digo ter;
Por mim você estaria preso e a mim você deve plenas garantias de liberdade;
Eu considero que você está sempre errado e você me deve o monopólio da razão;
Eu tenho certeza de que você é movido pelo pecado e você deve aceitar minha pureza d’alma;
Eu desconfio que você trama às minhas costas e você deve confiar cegamente em minhas intenções;
Eu creio que seus objetivos são sempre turvos e você deve aceitar que as minhas metas são em tudo transparentes;
Eu renego toda e qualquer influência que você alega ter e você deve reconhecer meu talento em mover multidões;
Eu me compadeço de seus herdeiros e você deve se orgulhar dos meus;
Para mim, você e eu somos, num só tempo, esterco e ouro;
Eu cuspo em você e nada vindo de você me atinge;
Eu proíbo terminantemente você de considerar-se eu neste texto, batizando, ato reflexo, a mim de você.
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Estão abertas as inscições do módulo APERITIVO SANTA SEDE. Serão 12 encontros e começam em setembro. Segundo curso mais tradicional da oficina literária, é ideal para ser a primeira experiência de uma pessoa neste universo por seu jeito descontraído e leve. Reconheça sua voz, encontre sua turma! Informe-se ou inscreva-se pelo WhatsApp (51) 99123-5540.
Quando eu era criança, outra criança, certa vez, me perguntou: “Eu sou eu, você é você, qual de nós dois é mais burro?” Era o tipo de pergunta que eu jamais faria a uma criança. Ficou evidente, para mim, que eu sabia a resposta e a outra criança não. Então me abstive de responder. Insistente, a primeira criança quis me proibir de ficar em silêncio! Sabe como são as crianças boazinhas, quando provocadas, não é? Tentei expliquei a ela, a meu modo, e com toda paciência, o princípio da causalidade. Ela espalhou o boato de que eu era chata. Tomei como elogio e joguei um feitiço amaldiçoando a criança para que continuasse a ser criança para sempre. Não que eu acreditasse que iria funcionar, pudesse ser revertido ou desmanchado. Era só brincadeira.
Que história encantadora.
Obrigado, Auri