Breve painel reflexivo

Eu odeio você e você deve gostar de mim;

Eu desprezo você e você deve me valorizar;

Eu tenho nojo de você e você deve me engolir;

Eu não tenho respeito por você e você me deve deferência;

Eu quero que você suma e você deve aceitar minha presença;

Eu acho que você nada vale e você deve aceitar todo o valor que digo ter;

Por mim você estaria preso e a mim você deve plenas garantias de liberdade;

Eu considero que você está sempre errado e você me deve o monopólio da razão;

Eu tenho certeza de que você é movido pelo pecado e você deve aceitar minha pureza d’alma;

Eu desconfio que você trama às minhas costas e você deve confiar cegamente em minhas intenções;

Eu creio que seus objetivos são sempre turvos e você deve aceitar que as minhas metas são em tudo transparentes;

Eu renego toda e qualquer influência que você alega ter e você deve reconhecer meu talento em mover multidões;

Eu me compadeço de seus herdeiros e você deve se orgulhar dos meus;

Para mim, você e eu somos, num só tempo, esterco e ouro;

Eu cuspo em você e nada vindo de você me atinge;

Eu proíbo terminantemente você de considerar-se eu neste texto, batizando, ato reflexo, a mim de você.

***

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2 comentários em “Breve painel reflexivo”

  1. Quando eu era criança, outra criança, certa vez, me perguntou: “Eu sou eu, você é você, qual de nós dois é mais burro?” Era o tipo de pergunta que eu jamais faria a uma criança. Ficou evidente, para mim, que eu sabia a resposta e a outra criança não. Então me abstive de responder. Insistente, a primeira criança quis me proibir de ficar em silêncio! Sabe como são as crianças boazinhas, quando provocadas, não é? Tentei expliquei a ela, a meu modo, e com toda paciência, o princípio da causalidade. Ela espalhou o boato de que eu era chata. Tomei como elogio e joguei um feitiço amaldiçoando a criança para que continuasse a ser criança para sempre. Não que eu acreditasse que iria funcionar, pudesse ser revertido ou desmanchado. Era só brincadeira.

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