Fatos recentes me fizeram relembrar a visita que fiz ao consultório do Analista de Bagé. Foi em maio de 2013**, quando estive na cidade fronteiriça. Oportunidade rara que guardo inteira na memória. Necessitado de apoio, e impossibilitado de estar lá agora, recuperei o cartãozinho que Lindaura me deu à época e arrisquei uma conversa por WhatsApp no número ali impresso. Quem sabe poderia ter sua ajuda?
Para minha surpresa, Lindaura respondeu. Disse-me que o Analista não se adapta aos modernismos digitais – seus dedos são mais largos que porteira de latifúndio e mais desengonçados que tatu de patinete. Mas, se eu mandasse uma pergunta, ele ditaria sua resposta para que ela mandasse para mim. Não me fiz de rogado e lasquei: como lidar com o luto? (Pressupus que a notícia da perda de Luis Fernando tivesse chegado à fronteira e, assim, nem dei detalhes…) Aqui, transcrevo sua resposta:
“Buenas, guri. Mesmo sendo freudiano de colar decalque, rascunhei uns apontamentos sobre a moda de dividir o luto em estágios. A Lindaura, que tem mão boa para muita coisa, escreverá a tese que desenvolvi para o compadre Odorino quando da partida de sua Carmencita, que Deus a tenha.
Primeiro estágio: coice nos beiços. É quando chega a notícia e nos põe no chão, mais tonto do que ginete que caiu do touro durante o rodeio e foi pisoteado pelo animal.
Segundo estágio: saudade da primeira professora. Um pensamento que se parece com a doce lembrança do convívio flor de especial que todo guasca tem da vez primeira em que se apaixonou, ainda piazito.
Terceiro estágio: rebuliço no baile. Sabe quando entorna o caldo e as adagas começam a chispar numa brigalhada que ninguém sabe quem começou, e sobra até pro gaiteiro? Parecido. Bate a culpa e o vivente revida, fere a dor e o coitado nem sabe por onde se escapulir. Dura até baixar a poeira.
Quarto estágio: quando baixa a poeira. O momento de desarmar o espírito e parar de duelar com a morte, que é coisa mais inútil que bula de remédio pra cego. O taura faz as pazes com o destino e chama ele pra tomar uma canha no bolicho do Alfeu. Paga a conta e ruma pra estância, quem sabe até ganha um chamego da prenda.
Abraço mais apertado que queijo em cincha, e um beijo na tua mãezinha, coitada, que ainda te atura.”
Bom, não sei para vocês, mas a mim ajudou bastante.
* Uma singela homenagem ao mestre dos mestres, Luis Fernando Verissimo.
** https://rubempenz.net/2013/05/08/uma-visita-ao-analista-de-bage/
Maravilhosa!!!!
Muito obrigado, Bil! Abração!