Prepare-se, vou me puxar na antiguidade.
Na minha (nossa?) infância, havia uma série de desenhos animados do universo Looney Tunes com o seguinte enredo: uma gatinha – Penélope Pussycat –, por acidente, teve uma listra branca pintada em suas costas. Isso provocou a paixão de um gambá – Pepé Le Gambá –, pelo qual a gata tinha ojeriza. Ele a perseguia lentamente e ela fugia em disparada. Em vão: ele sempre a alcançava.
Talvez pela história ter ficado em meu subconsciente, quando a Agatha dispara para fugir de mim, vou a passos em seu encalço. Velocidade Pepé. Por mais que ela esteja rápida na corrida – e está –, aos dois anos e pouco não é páreo para um adulto. Será? Dia desses, no Shopping Eldorado (SP), me dei muito mal e vivi uma das piores desventuras da aventura que é ser pai: perder a criança.
Vanessa queria muito, mas muito ir ao banheiro e, quando Agatha saiu correndo, disse: vai atrás. Fui caminhando. De longe, pude vê-la entrando na Zara. Primeiro problema: não moro em São Paulo nem fazia ideia do tamanho da loja. Segundo problema: uma criança pequena some por trás das araras de roupa. Quando cheguei, nada da filha. Quando entrei, vi que o lugar era uma catedral com três naves, a central e duas laterais. Pânico.
Lá no meio, paralisado, dei-me conta de que se eu fosse para o lado errado, Agatha poderia sair da loja sem ser vista. Decidi voltar para a porta, na esperança de que não houvesse outra saída. Quem eu encontro chegando? Vanessa, irritadíssima, ainda apertada. Sua intuição falou mais alto do que a bexiga. Montei guarda e ela entrou. Em instantes, tinha a filha pela mão, que carregava uma bolsa da Minnie. Ainda teríamos a tarefa de dissuadi-la antes de socorrer a mamãe.
Tinha me esquecido desta fase Penélope das crianças, e minha gatinha foi muito mais rápida do que seu velho Pepé poderia supor. Revivi um dos mais apavorantes pesadelos parentais, ter sua criança roubada, consciente de que, sim, isso pode acontecer. Criminosos ou doentes só estão à espera de uma linda e saltitante oportunidade de cachinhos cobreados. Não sei se teria perdão. Não sei se me perdoaria. Deus nos livre.
Para terminar, crianças nunca alcançam a camada irônica que todo desenho animado do século passado escondia no enredo, atrás das araras do texto. Pepé era francês, tal qual os mais afamados rótulos de… perfumes. Há rumores de que a série foi recentemente associada a cultura do assédio e do estupro. Oh dor, estão vendo pelo (de gato) em ovo.
*A&DPBP são as Aventuras & Desventuras de um Pai Bem Passado
Uma vez meu primogênito sumiu no supermercado, Rubem. Poucas vezes vivi segundos tão angustiantes feito aqueles. Quanto ao desenho, eu assistia a todos os episódios. Bons tempos.
Valeu, Ataíde! Quando menos esperar estará correndo atrás do Benício! Abração
Também perdi o filho entre as araras da C&A certa vez. Ele foi tão doutrinado sobre não desgrudar da mãe que, quando se viu perdido, abriu o berro. Aí foi fácil encontrá-lo. Estava atrás da arara vizinha.
A Agatha é muito peralta. Dará bastante (bom) trabalho, Zuzu… Beijos