Janela do ônibus
Rubem Penz
1976 – Linha Carlos Gomes/Jardim do Salso, Av. Cristóvão Colombo, uma parada antes da curva dos Bombeiros. Na mesma visada, a Casa Torpedo revela em suas vitrines alguns dos modelos mais desejados de bicicletas Caloi e Monark, e a fachada da paróquia São Pedro no alto de sua escadaria olha para a Rua Conde de Porto Alegre, caminho para ir à casa da Vó Morena. Eu rumo ao Centro, para a Galeria do Rosário, comprar selos para a numerosa coleção que não sei por onde andará.
1982 – Terminal da Linha IPA, na Praça Dom Feliciano, final da tarde. O pau que tomara no Vestibular daquele verão me leva a cursar o semiextensivo do Unificado. Cai a tarde de um inverno rigoroso e as luzes da cidade já estão acesas. Ao fundo, a descida da Rua da Praia parece um formigueiro de pessoas com guarda-chuvas abertos. Ao lado, vejo os carros dobrarem na Pinto Bandeira na direção da Alberto Bins, ladeira em que eu e o pai paramos seu Opala para buscar minha primeira bateria na Casa Beethoven quatro anos antes. A garoa faz os carros buzinarem com pressa de entrar na Independência.
Cai a tarde de um inverno rigoroso e as luzes da cidade já estão acesas.
1990 – Campus/Ipiranga. A porta do coletivo se fecha atrás de mim com muita dificuldade após subirmos, eu e uma multidão, na parada próxima da Av. Antônio de Carvalho. Ônibus lotado, depois de depender do T2 para ir à ESEF/UFRGS, não é nenhuma novidade na vida. A primeira imagem a quebrar a sequência de terrenos baldios seria apenas a sede da CEEE, já próximo da PUC. Nem o motorista, nem o cobrador, nem alguma de nós, sardinhas enlatadas, imaginaríamos o quanto essa paisagem mudaria em pouco mais de 20 anos, num crescimento de “Porto a Leste”.
2011 – Terminal do Vila Assunção, na Av. Borges de Medeiros quase esquina com a Mauá. Cedo da manhã, depois do café comprado ao descer do Seletivo Viamão/Perimetral, escolho sentar no banco que fica de costas para o motorista, bem ao lado do cobrador. A visão contrária ao sentido das vias permite não só olhar meus colegas passageiros de frente (e imaginar o que pensam, o que sentem, o que move cada um), como variar o ângulo para fora. Em seu trajeto, a paisagem mais bela de Porto Alegre, costeando o Guaíba. Às vezes, muitas vezes, o livro que trago em mãos permanece fechado enquanto eu me distraio lendo o sedutor entorno.
2019 – Dia 05 de abril, durante a Virada Sustentável, vou rodar pela cidade na Linha Turismo por iniciativa da Casamundi Cultura. A proposta, oficina literária “Viajando na Urbanidade”, será escrever sobre a cidade que vemos, buscando detalhes que nos escapam. Expor nossa visão, exibir nossos sentimentos. Será um desafio lindo de se ler, com certeza.
Que bacana!!!!
Obrigado!