Pior (e melhor) impossível

Pior (e melhor) impossível

RubemPenz

Eu estava diante da TV na manhã de 1º de maio de 1994, fazendo a curva Tamburello do GP de San Marino, em Ímola, junto com o Ayrton Senna, no exato instante em que o carro rumou para o guard-rail. E o que seguiu ao acidente, depois de algumas edições de imagens, foi o mais perfeito drama cinematográfico. Tombava um ídolo, nascia um herói. Trilha sonora, narração, imagens dos espectadores, dos outros pilotos, direção da prova, mecânicos, socorristas… Dramalhão capaz de amolecer até o mais endurecido amortecedor, até o mais recentido crítico da idolatria ao mega festejado piloto brasileiro – e olha que Fittipaldi e Piquet movem multidões por admiração e simpatia.

Eu estava domingo passado diante da TV olhando a largada do GP do Bahrein, feliz que Hamilton manteve a ponta, também contente com o Max em segundo lugar e surpreso com a performance aquém da expectativa do Bottas. Então, no pelotão intermediário, o jovem Romain Grosjean voou para fora da pista. Vi seu carro se partir em dois, espalhando chamas. Vi o socorro chegar em instantes. Vi a nuvem de extintores pintar a cena de branco e vi, incrivelmente, o piloto se erguer do cockpit e sair do carro por entre as labaredas. Contaram: foram 29 segundos até estar a salvo. Uma eternidade.

Parecia cinema! Filmes de aventura ou ficção científica – coisa de O exterminador do futuro. O inacreditável é que, para parecer verdade – para nos convencer –, compõem a cena de mentira um exército de técnicos em efeitos especiais e circences dublês, além de uma direção detalhista capaz de corrigir qualquer falha. Ou, como nos dias atuais, um grupo de programadores e designers gráficos mestres em simular todo tipo de imagem por computador. Domingo, na pista, não: era um piloto de carne e osso se levantando depois de um choque a 200 Km/h e uma explosão real.

A vida a nos ofertar lições de roteiros dramáticos não chega a ser novidade – muitas vezes de uma tristeza tão pungente que soaria artificial demais para parecer verdade. E, neste final de semana, meus olhos redimiram os aparentes exageros dos filmes de ação. Méritos ao imenso trabalho das equipes de desenvolvimento de produtos. Do capacete ao macacão, passando pelas luvas e calçados; da célula de sobrevivência do carro ao cinto de segurança; das estruturas mecânicas projetadas para absorver impacto à juventude do piloto, tudo conspirou a favor do final feliz. Agora, se caísse em minhas mãos esse roteiro, eu diria: ok, escalem o Tom Cruise que isso é muito Missão Impossível.

PS.: Está no jornal a escalação de Pietro Fittipaldi para substituir Romain Grosjean no GP de Sakhir… Teremos um “Vale a pena ver de novo”?

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