Você parou para pensar o que significa aquele “(Org.)” logo após um nome na capa de um livro, no meu caso o que aparece na Santa Sede? Organizador, óbvio. Mas, como assim? Bom, o organizador está para um livro como o incorporador está para um prédio: desde a primeira ideia – um lampejo – até que todos os moradores habitem os apartamentos (os escritores, suas páginas), será dele a incumbência de executar o projeto. Olhando bem, é muita coisa para pensar antes, fazer durante e contabilizar depois. Uma total insanidade se não fosse compensada pela a satisfação de realizar o que fora apenas imaginado. Mais: realizar em grupo.
Tive o primeiro contato com a tarefa faz quinze anos – em 2008, fiz parte da comissão editorial de “Pedra, papel e tesoura – contos de oficina 38” (Ed. Bestiário, 2008) e fui co-organizador de “Ponto de partilha 1” (Ed. Bestiário, 2008). No comando, o mais querido, talentoso e generoso casal literário que conheço: Luiz Antonio de Assis Brasil e Valesca de Assis. Ao ser apresentado às funções de um organizador, notei que poderia colher em minhas experiências subsídios capazes de acelerar muito o aprendizado. Para conservadores, elas parecerão curiosas: a organização de um bloco carnavalesco com porte de mini-escola de samba e a função de redator e diretor de criação. Explico.
Ainda adolescente, nos blocos de carnaval da Praia do Barco, aprendi que uma atividade coletiva eficaz demanda condições prévias. Alguém, seja um indivíduo ou um pequeno grupo, precisa ter noções de planejamento. No Carnaval, são inúmeras as perguntas cujas respostas precisam estar na ponta da língua antes da primeira miçanga: o que, como, quando, por quanto e, claro, por que? Sem ter as respostas muito claras na mente, ou, melhor ainda, no papel, só os irresponsáveis seguirão o carnavalesco. Porém, a partir delas nascerá o mais importante patrimônio de quem assume a organização: a confiança do grupo. Todo líder se alimenta de confiança e entrega resultados.
E onde entra o publicitário nesta equação? Primeiro, na intimidade que experimentei na área gráfica. A mim nunca bastou escrever uma peça – desejava acompanhar sua evolução até o final, entre as discussões com o diretor de arte e as escolhas feitas pelo produtor gráfico: quantidade de cores, dimensões, papel, relação custo-benefício. Também tive noções de produção de áudio e vídeo, aprendendo com profissionais gabaritados a lição maior: caro, caríssimo, é o projeto mal feito. E, para fins de criatividade, a excelência potencializa a criação, dando a ela a dimensão máxima e o impacto necessário.
Hoje, atuo como organizador de três tipos diferentes de livros por ano, cada um deles com suas características. O mais antigo é a antologia “Santa Sede, crônicas de botequim” – volumes apenas numerados entre 2010 e 2018 e, a partir de 2019, com nomes próprios. Sua estrutura nasceu para escapar das armadilhas dos “livros de oficina” e tem o condão de produzir obras inéditas, mas que ao mesmo tempo componham uma grande e harmônica coleção. Já os volumes da Master Class são laudatórios: desde 2014, um grande autor por ano recebe projeto único, nascido de uma ementa sob medida para iluminar seu legado. Por fim, os Spin-offs: livros temáticos que envolvem encontros prévios de oficina. Somando tudo, em 2023 já serão 34.
Sou realizado com o que faço – e como sou! A alegria plena virá no dia em que eu me convencer de que estar nomeado como “(Org.)” seja decisivo para que leitores avancem nas páginas, ou um motivo a mais para trazer escritores aos nossos projetos. Por enquanto – e quando se fala em economia criativa não é pouco – apenas subo paredes com meus tijolinhos. Vibro durante a caminhada dos grupos e nas noites de autógrafos, ainda que, ao cabo, a expressão que mais transpareça seja a de alívio. E, tal qual um incorporador, tenho aquele olhar meio perdido de quem já pensa na próxima obra.
Conheço muito bem o (órg)ão pensante do (org)anizador dessa (org)ia literária que é a Santa Sede, que nunca para de nos deixar (org)ulhosos. Cada oficina, um prazer, cada livro, um (org)asmo. Parabéns, Rubem (Org) Penz!
Muito obrigado, Gian!
Só que, putz, fiquei sem opções de trocadilhos para responder: usou todos!
Abração!
Boa! Produzir dá trabalho, mas é gratificante quando se chega ao final.
Muito gratificante, Altino! Valeu!